Iracema 236ml é novidade

Já nos idos anos de 1970, Afrânio Coutinho assinalava que o índio de José Martiniano de Alencar era um europeu de tanga e tacape. Iracema 236ml, o mais recente espetáculo da Companhia Silenciosa, é uma forma de escape do presente para o passado, mas um passado idealizado pelo sentimento e artificializado e fetichizado pela transposição de um desejo de compensação e representação onírico.

Essa Iracema de 2004 incorre na mesma contradição de supervalorizar o pitoresco e a cor local do tipo brasileiro, também e paradoxalmente atribuindo-lhe qualidades, vicissitudes, sentimentos e valores que não lhe pertencem, e sim à cultura européia encobridora e sobreposta, como um simples decalque universal.

A versão que a Companhia Silenciosa traz para a cena aparece revestida de milhares de camadas de anos, discussões e escapismos românticos à procura de uma possível identidade nacional.

Iracema 236ml, com cara de regionalismo literário-teatral, confunde o Brasil com o deformante provincianismo de mau sentido, assim como com o cosmopolitismo, mera contrafação do universalismo gritante. Não decifra questões, que nem o próprio José de Alencar decifrou, mas lança algumas novas.

Últimas apresentações do espetáculo neste final de semana, no Espaço Cultural Falec, Rua Mateus Leme, 990 (a duas quadras do Shopping Mueller). Sábado 21h e domingo 19h.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo