Invisibilidade social virou tragicomédia em ‘Entre Abelhas’

Sabe aquele cara que você viu enrolado no cruzeiro de Meu Passado Me Condena e na tentativa de assalto de Vai Que Dá Certo? Esqueça – pelo menos durante o tempo de Entre Abelhas, que estreia nesta quinta-feira, 29, em salas de todo o Brasil. Fábio Porchat é outro homem. Deixou de fazer humor para tentar o drama. Mas, atenção, ele esclarece: “Não grito que sou um ator sério nem estou dando uma guinada com a carreira. Vou voltar com o humor, mas sou ator e autor, e esse é um projeto antigo, que nos persegue há nove anos, quando a gente ainda não era ninguém.”

O ‘a gente’ inclui o diretor e co-roteirista Ian SBF, que escreveu Entre Abelhas com Fábio Porchat lá atrás, quando eram ‘jovens.’ Já naquele tempo, há quase uma década, eles se preocupavam com a invisibilidade social e teceram a história de Bruno. De cara, o público vai pensar – como assim, um filme diferente? Porque Entre Abelhas decola como qualquer Cilada.com. Numa festa de despedida de casado, numa balada regada a garotas, em que Bruno e os amigos festejam o aniversário dele. Bruno separou-se da mulher, mas não está muito conformado.

Rolam as situações de praxe – os palavrões e o pega-pega. Mas, logo em seguida, ocorre algo curioso. O grupo tirou umas fotos e Bruno dá-se conta de que os retratados começam a sumir. Como assim? Eles vão desaparecendo das fotos, exatamente como na vida as pessoas ao redor vão sumindo. Preocupada, ‘mamãe’ Irene Ravache leva o filhão ao médico, mas não adianta. As pessoas vão continuar sumindo até que, lá pelas tantas, Bruno vai se descobrir sozinho no mundo. A situação lembra um pouco a de famosas obras de ficção científica, como os filmes Mortos Que Matam, de Sidney Salkow, e seu remake, A Última Esperança da Terra, de Boris Sagal. Mais recentemente, a mesma história inspirou Eu Sou a Lenda, com Will Smith (e Alice Braga).

Em todas essas versões, um homem descobre-se sozinho no mundo – e é famosa a imagem de Charlton Heston no cinema, em A Última Esperança, assistindo à explosão de humanidade daqueles dias de rock e sexo em Woodstock. Claro que, hollywoodianamente, surgiam das sombras mutações para perseguir o herói. Aqui, não, as pessoas somem – ponto. Ocorre algo no final. “Fábio Porchat num filme cabeça”, sentenciou um espectador no fim da pré-estreia. Para o ator – e seu parceiro, Ian SBF, que dirige os quadros do Porta dos Fundos online -, não chega a tanto. Ian conta: “O filme é uma tragicomédia. Éramos jovens e já muito amigos, e o Fábio era perseguido por essa história das pessoas que iam desaparecendo. Eu entrei na dele, escrevi um primeiro tratamento. Fábio gostou, reescreveu, mas o roteiro foi para a gaveta e lá ficou todo esse tempo (nove anos). Nesse meio tempo, fizemos o Porta dos Fundos, ele estourou como bilheteria e encontramos nossos parceiros para fazer o filme como achávamos que tinha de ser feito.”

Um filme cuidado, bem produzido e interpretado e que encerrou um desafio para o (jovem, também) diretor de fotografia Alexandre Ramos. Uma tragicomédia, porque não faltam momentos de humor, principalmente quando mamãe tenta fazer com que o filho veja um sujeito (e leva Luís Lobianco para dentro de casa). “O filme não tem paisagens de cartão postal do Rio porque queríamos que essa história desse a impressão de se passar em qualquer cidade brasileira.” Existe uma explicação para o título – Entre Abelhas -, mas ele faz parte do estranhamento que o filme pode produzir. Porchat reconhece a dificuldade ‘em princípio’ – “O título pode não significar nada, mas justamente por ser estranho ele já gerou um ruído e as pessoas falam no filme ‘das abelhas’. Está sendo motivo de curiosidade.”

E como é para um comediante fazer um papel dramático? “Antes de ser comediante, sou ator. Já fiz drama, embora as pessoas tenham de mim, hoje, essa imagem do comediante. Acho que, basicamente, é uma questão de autocontenção. O humor tem um timing muito preciso que é ‘para fora’. Aqui, atuo para ‘dentro’. Foi um exercício legal.” Esse choque de humor e drama aparece nas crônicas que escreve para o jornal O Estado de S.Paulo. “Falo de tudo, abordo questões sérias. É sempre difícil achar o tema, o tom, mas estou adorando.”

Irene Ravache

Uma das gratas surpresas de ‘Entre Abelhas’ é nos lembrar a bela atriz que é Irene Ravache. Nos últimos anos, ou papéis, Irene se cristalizara na representação de donas de casa insatisfeitas e simplórias, sem a complexidade que uma atriz do seu calibre poderia conferir às personagens. A mãe de Bruno (Fábio Porchat) vai além do estereótipo.

Porchat contou ao repórter que algumas escolhas do elenco foram muito fáceis – Luis Lobianco e Marcos Veras entraram quase ao natural, na ‘brodagem’. Quando surgiu o problema da mãe de Bruno, o nome de Irene se impôs. Mas ela toparia? “A Irene não só topou como entrou no espírito da coisa. Ela não foi estrela e representava na onda da gente, como só uma grande atriz sabe fazer.” A mãe de Bruno carrega o próprio sentido tragicômico de ‘Entre Abelhas’. Possui um arco (dramático). Poderia ser um clichê. É uma presença profundamente humana. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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