A internet é o mais crescente e democrático canal de vendas para artistas e gravadoras independentes. É o que conclui o Estudo de Mercado da Música Independente que o Sebrae Nacional lança nesta quinta-feira (21) na Feira de Música de Fortaleza na capital cearense. O material apresenta um retrato do setor no País e aponta as principais tendências. Uma delas é que os ambientes virtuais podem ser um caminho de sucesso para a música nacional.

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Elaborado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), o estudo traz informações cruciais sobre a cadeia da música, que envolve um conjunto gigantesco de profissionais. Há análises sobre as diversas etapas do processo de produção, englobando pré-produção, produção em si, distribuição, comercialização e até o consumo.

“São orientações para apoiar entidades e empresários a estabelecer estratégias para acessar o mercado, cada qual de acordo com a sua realidade”, explica a coordenadora técnica do documento, Patrícia Mayana.

As juras de um futuro promissor pela internet partem do pressuposto de um aumento crescente e significativo no faturamento das lojas virtuais nos últimos anos. Segundo dados do site IDG Now, especializado em internet, as vendas online no País, em 2007, cresceram quase 45% na comparação com o ano anterior.

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Em compensação, a venda da música no formato físico, ou seja, em CD, segue tendência mundial e apresenta queda significativa. Em 2001, o faturamento do setor com a venda de discos compactos foi de R$ 891 milhões. Em 2004, esse número caiu para R$ 701 milhões. E, no ano passado, o faturamento despencou, chegando a R$ 337 milhões.

Com as vendas pela internet crescendo substancialmente, a exportação da música brasileira explodiu no mundo. Sem as barreiras impostas pelo transporte e pela burocracia da importação, o comércio é facilitado e já gera bons lucros a gravadoras e artistas nacionais. Dados da Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex) mostram que, durante a Feira Internacional de Música, na França, em 2006, o Brasil fechou mais de US$ 2 milhões em negócios com empresas e lojas on-line européias.

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Especialmente em relação à música independente, a internet é um canal ainda mais promissor. Segundo relatório da Associação Brasileira da Música Independente (ABMI), 80% da produção nacional de fonogramas (música) é de independentes, o que representa 25% do total vendido no País. No Brasil, as produtoras ou selos independentes somam mais de 400 empresas, em sua maioria micro e pequenas, que, juntas, possuem grande participação no mercado.

“Pela internet, artistas e pequenas gravadoras tem mais recursos e facilidade para divulgar seu produto e atingir o público específico. E como a internet não tem fronteiras, essa divulgação passa a ser internacional. Além disso, quando o consumidor paga pelo produto, toda a cadeia é remunerada”, explica Matheus Marangoni, pesquisador da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

Ameaças

O estudo traz ainda abordagens do segmento a partir da política nacional, entidades de apoio e legislação. De acordo com o material, o governo brasileiro procura incentivar a cultura por meio de leis de incentivo ao patrocínio privado de obras com cunho cultural. Entidades de apoio também se organizam em torno da auto-regulamentação, auxílio à produção cultural e combate à pirataria.

Marangoni explica que a pirataria e a economia informal, em todas as suas manifestações, representam grande ameaça ao retorno financeiro das gravadoras de qualquer porte. Segundo o pesquisador, estimativas dão conta de que 40% das vendas de música sejam realizadas informalmente.

“As leis de direitos autorais ainda são pouco aceitas pela população brasileira. Embora exista uma legislação específica e bem clara sobre o tema, as pessoas, em geral, não reconhecem sua importância e não consideram uma prática efetivamente ilegal comprar discos em camelôs ou fazer downloads pela internet sem pagar por isso”, comenta o pesquisador.

Nichos

Além disso, o estudo aponta outras fragilidades para a música independente, como a falta de verbas pelas pequenas gravadoras para a divulgação nas mídias tradicionais, falta de organização do setor e da cultura de cooperação, baixo poder de barganha junto aos fornecedores, problemas com a falta de estrutura física e operacional para gerar produtos de alta qualidade, e falta de acesso aos grandes varejos.

Como solução, o estudo sugere uma atenção especial às potencialidades do setor, que indicam grande poder e facilidade para atender a nichos de mercado específicos, seja por regiões, estilo musical ou público-alvo. Segundo o levantamento, o crescimento do mercado de nichos é uma tendência que reflete a procura cada vez maior de consumidores por artigos especializados. “É muito mais fácil entrar no varejo com um produto específico”, conta Marangoni.

Outra porta de entrada para o sucesso é a participação em festivais de música independente. Essa participação é apontada como uma excelente oportunidade para divulgação de novas bandas e artistas. Segundo Marangoni, “os festivais são movimentos de grande repercussão, que oferecem amplo espaço de divulgação e visibilidade”.

Pró-música

Desde 2001, o Sebrae promove ações para estimular a competitividade e o desenvolvimento sustentável da indústria musical. Grandes feiras, eventos de negócios, publicações e orientações a músicos e empreendedores do setor são algumas das ações que ajudam a dar mais fôlego à música nacional. De acordo com Décio Coutinho, gestor da carteira de cultura do Sebrae, existem atualmente projetos em 11 estados brasileiros sendo desenvolvidos.

Para apoiar o direcionamento de estratégias, o Sebrae lançou no ano passado o ‘Termo de Referência da Cultura e Entretenimento’. Recentemente, criou em seu site uma página setorial voltada especificamente sobre cultura. O portal abrange os setores de artes cênicas e performáticas, audiovisual, festas populares e, claro, música. Lá, o visitante encontra informações sobre o mercado, legislação e políticas, além de orientações sobre a abertura e aprimoramento de negócios.