Qual o papel dos intelectuais no processo de organização do ensino superior no Paraná? Que status os intelectuais paranaenses atribuíram às faculdades técnico-profissionalizantes? Que lugar foi reservado às letras? Que papel foi estabelecido à formação de professores? A busca de respostas incentivou Névio de Campos, professor e pesquisador, a desenvolver pesquisa de doutorado, que foi defendida recentemente no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPR – Universidade Federal do Paraná.
?A nossa tarefa foi discutir a natureza dos projetos universitários, pensados na capital paranaense entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX, bem como o papel dos intelectuais no processo de discussão e constituição do ensino superior no Estado do Paraná?, explicou Campos.
Em outros termos, sua pesquisa foca os seguintes aspectos: a concepção de universidade de Rocha Pombo, proposta em 1892; a idéia de ensino superior subjacente ao projeto de 1912; a natureza do projeto da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, fundada em 1938; o processo de constituição da Universidade do Paraná, oficializada em 1946, e sua transformação em Universidade Federal, em 1950.
Aspectos comuns. Os projetos universitários organizados pelos intelectuais se identificavam à medida que todos postulavam a formação de uma elite intelectual capaz de conduzir a nação. Para Rocha Pombo, a direção da nação deveria ser tarefa do sábio. Relata Campos: ?ele acreditava que a prosperidade material do Brasil dependia do desenvolvimento do saber científico, mas o progresso cultural da humanidade era tarefa da arte.?
Para o grupo de 1912, os ?homens da ciência? tinham que ocupar os espaços de direção do Estado. Relata o pesquisador que os integrantes da FFCL-Faculdade de Filosofia Ciências e Letras afirmavam que ?a renovação cultural do Paraná deveria ser coordenada pela elite intelectual católica. Estes se punham como arautos da modernização do Estado, pois diziam ter o dever de realizar o projeto que o grupo de 1912 não conseguiu efetivar?.
No momento da oficialização da Universidade do Paraná, em 1946, diz o pesquisador, ?Liguaru Espírito Santo, professor da FFCL afirmava que seria papel da universidade a formação da elite de alta qualidade, sabedora dos seus deveres, conhecedora do mal e dos seus remédios, filha do saber e disposta a não poupar sacrifícios para salvar a sociedade e a pátria.?
Em síntese, nesses diferentes momentos da história cultural paranaense, os intelectuais se apresentavam como agentes de vanguarda da política e da história do Estado e do País, bem como os verdadeiros representantes do povo.
Zélia Maria Bonamigo é jornalista, mestre em Antropologia Social pela UFPR, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná. zeliabonamigo@terra.com.br
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