Os leitores brasileiros acabam de ser brindados com o relançamento de duas obras da escritora britânica Virginia Woolf pela editora Nova Fronteira: Orlando, com tradução de Cecília Meireles (224 págs. – R$ 29), e O Quarto de Jacob, versão em português assinada por Lya Luft (142 págs. – R$ 29).
É o terceiro título publicado pela Nova Fronteira, que está relançando toda a obra da autora – o primeiro foi Mrs. Dalloway, lançado no início do ano. Ambos estão entre as mais representativas obras de ficção da autora, mas têm histórias bem diferentes: enquanto O Quarto de Jacob marca a passagem da literatura tradicional para o universo do experimentalismo, com o qual acabaria deixando a sua marca literária, Orlando, lançado seis anos mais tarde, foi o primeiro grande êxito comercial da carreira de Virginia.
Além da qualidade literária, as duas obras ostentam traduções primorosas, sem qualquer perda em relação aos originais – o que se deve em grande parte ao talento das colegas de ofício da autora inglesa, Cecília Meireles e Lya Luft, que conseguem manter as nuances e imagens dos escritos de Virginia.
Terceiro romance de Virginia Woolf, lançado em 1922, O Quarto de Jacob traz Jacob Flanders como o personagem central de uma história que não se revela nem se conclui. Não é a ação quem conduz a narrativa, mas os tormentos, as dúvidas, ambições e os amores por pessoas e livros que ditam o rumo dos acontecimentos, sempre de forma fragmentada e longe da estrutura aristotélica de três atos. Com a seqüência desenfreada de eventos, Virginia tentou representar a forma aparentemente desconexa que rege a mente humana. Esse fluxo ininterrupto do pensamento acabaria celebrizando a autora: ?Não tenho qualquer dúvida de que descobri como começar a dizer qualquer coisa com minha própria voz?, disse ela pouco depois de concluir a obra, aos 40 anos.
Brincadeira
Já Orlando nasceu como uma brincadeira, e acabou se tornando uma obra séria. Baseado na vida da aristocrática família de Vita Sackeville-West, por quem Virginia foi apaixonada, o livro tornou-se um grande sucesso de público. Trata-se da biografia fantástica de um nobre inglês que se transforma em mulher, retratando 350 anos de vida do personagem (do século XVI à década de 1920). Em toda a trajetória, Orlando está sempre em busca do amor e da arte.
Ao acompanhar as aventuras de Orlando, a escritora oferece aos leitores um panorama das transformações sofridas pela Inglaterra da época, e traça divertidas comparações entre homens e mulheres, que acima de tudo, servem para desenhar Orlando como um ser humano, independentemente do sexo. ?Quero o prazer, a fantasia. Quero dar às coisas seu valor caricatural?, imaginava a autora. De fato: a caricatura, a farsa, a sátira e a ironia estão presentes em cada página do livro – leia-se o prefácio, no qual agradece até à colaboração da sua empregada doméstica.
A autora
Nascida em Londres em 1882, numa família que valorizava a erudição e o desenvolvimento artístico, Virginia Woolf criou na companhia da irmã Vanessa Bell e do marido Leonard Woolf o Bloomsbury, grupo de jovens intelectuais que marcaria profundamente a cultura inglesa mundial na era pós-vitoriana. Com a infância e a adolescência marcada por abuso sexual e grandes perdas pessoais, muito jovem a autora começou a revelar seu temperamento depressivo, tendo sido internada após uma tentativa frustrada de suicídio. O ato se consumaria em 1941, aos 59 anos, quando ela se afogou nas águas do rio Ouse, em East Sussex, Inglaterra.
