Uma Gal Costa leve e inspirada, pisando firme nos “caminhos que levam à grande beleza”, estreou no Rio o show do CD “Recanto”. O repertório tem 8 de suas 11 faixas, costuradas a sucessos de diferentes fases dos mais de 40 anos de carreira: das sessentistas “Baby” e “Divino Maravilhoso” a sucessos das décadas de 70 e 80, como “Força Estranha”, “O Amor” e “Meu Bem, Meu Mal”. Com diferentes intensidades de intervenções eletrônicas, é a voz de Gal a estrela, à vontade que está com as novidades trazidas por Caetano Veloso (compositor do CD e diretor do show) e sua turma.

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O desembaraço da nova Gal não passa despercebido: na funkeada “Miami Maculelê”, ela insinua uma “dança da bundinha” sampleada dos bailes do Rio – o que pega de surpresa os fãs mais conservadores que foram em busca da diva das canções de Tom Jobim e Ary Barroso. Em “Um Dia de Domingo”, brinca de imitar o vozeirão e os vibratos de Tim Maia, com quem a gravou. Ao apresentar os músicos, zomba de Domenico Lancellotti, a cargo das baterias acústica e eletrônica: “O que é isso mesmo? MPC?” E depois volta ao assunto, como se pedisse a cumplicidade da plateia: “Gente, é tanto pedal que tem aqui, uma loucura!”.

Pedro Baby (violão e guitarra) e Bruno Di Lullo (baixo) completam o quarteto que preenche os míseros 36 m² do palco da Miranda, a casa da Lagoa inaugurada com Gal (os shows continuam esta semana, e em abril chegam a SP). A sonoridade ao vivo é fiel à do CD, embora sejam mais discretas as intervenções de Domenico, e haja momentos inteiramente acústicos (os de volta ao passado).

Saudoso da cantora baiana, que não gravava desde 2005, o público reagiu muito bem à estreia intimista (quinta para convidados e a partir de sexta já para pagantes, num total de 250 pessoas por noite). Como em todo lançamento, o coro mesmo se ouve nos clássicos (“Vapor Barato”, “Folhetim”), sutilmente recriados. A louvação ao ato de cantar está em seis músicas diferentes, dos versos de “Minha Voz, Minha Vida” (“trago a vida aqui na voz”) à “luminosa paz” da nova “Mansidão”. Entre agudos perfeitos e graves inéditos, o set list se justifica.

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Na sexta, artistas como Paula Morelenbaum e Marcos Valle, que incorporaram os sons eletrônicos faz tempo, celebravam o barato de Gal. “Ela está cantando como nunca, e mais solta. O Caetano a gente sabe que é muito moderno; é bom ver que a Gal também está acreditando nisso”, dizia Paula. “A voz está funcionando como um instrumento. Vê-la entrar nessa história a essa altura da carreira é interessante”, elogiava Valle. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.