Uma das grandes – e mais queridas – expoentes da música caipira, a cantora paulistana Inezita Barroso comanda há três décadas o longevo programa Viola, Minha Viola, na TV Cultura, onde recebe convidados, e foi recém-eleita à Academia Paulista de Letras. Aos 89 anos, Inezita, claro, tem muita história para contar. Isso já havia sido feito em uma biografia lançada no ano passado, Inezita Barroso – A História de Uma Brasileira, na qual o jornalista Arley Pereira, entre outros aspectos, a retrata como uma desbravadora no meio musical. Agora, a trajetória de Inezita volta a ser revisitada, desta vez em primeira pessoa, em depoimento ao jornalista Carlos Eduardo Oliveira, no livro Inezita Barroso – Rainha da Música Caipira.

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A obra funciona como um livro de memórias, que reparte os episódios marcantes de sua vida. Em alguns capítulos, Inezita não se estende mais do que duas páginas. “A intenção não foi ‘dissecar’ vida e carreira da carismática Inezita, mas elencar de maneira singela o caminhar de uma artista monumental”, justifica Oliveira no início do livro.

De família quatrocentona, ela nasceu Ignez Magdalena, na Barra Funda, num domingo de carnaval. Assim, enquanto sua mãe dava à luz, tocava ao fundo marchinhas do Cordão Camisa Verde, que passava em frente à sua casa naquele momento. Fora o primeiro som que ouviu.

Inezita cresceu entre a cidade e o campo, onde passava suas férias escolares. Essa variedade de cenários se refletia nas diferentes experiências musicais às quais era submetida. Nas temporadas longe da cidade grande, havia uma imersão na música caipira, que entrou na sua vida para não sair mais. Já na casa do avô Filadelfo, escutava os discos de música clássica que ele tanto amava. Sem contar o bolero mexicano, paixão dela que seu pai alimentava comprando discões de 78 rotações de cantores mexicanos. “É uma coisa engraçada, porque todas as referências se misturavam mesmo. Não pensava em gêneros opostos, pensava em música. A clássica, a viola caipira, as modinhas, as serestas e até os mexicanos”, conta Inezita, em entrevista ao Estado. Para ela, sua música acabou por refletir uma diversidade de influências, mas fez escolhas. “Cantei apenas música popular brasileira. Tanto aquela pura do folclore, também aquelas populares baseadas nas lendas folclóricas e ainda as apenas populares, feitas por ótimos compositores. Ouvir e conhecer música assim diferente foi essencial para escolher o que e como fazer a minha obra.”

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Além de identificar suas influências, a cantora retoma a construção de sua carreira, desde que pisou pela primeira vez num estúdio para um teste, na década de 1950, e registrou Moda da Pinga – seu sucesso até hoje – e Ronda – por sugestão do próprio autor Paulo Vanzolini, que, por coincidência, estava por lá. Aliás, é dela o mérito de ter sido a primeira cantora a gravar o clássico da fossa de Vanzolini. Inezita passa ainda pelos tabus que quebrou como intérprete mulher, como a imposição de sua voz de contralto absoluto quando o padrão da época para uma cantora era, como ela define no livro, o “da voz fininha de dondoca, muito água com açúcar pro meu gosto, ou o modelo voz de soprano”.

No capítulo dedicado à TV Cultura e ao Viola – que se confundem com sua própria carreira -, Inezita relembra de um fato curioso: um “probleminha” que teve com Tom Zé quando ela foi entrevistada no programa Roda Viva e ele, um dos entrevistadores. Segundo ela, alguém havia lhe dito que o cantor não gostava dela e ele teria demonstrado isso ao jogar longe um release sobre ela distribuído na bancada. Teriam eles acertado os ponteiros depois desse episódio? “Nossa, isso faz tanto tempo. Nunca conversamos depois disso. Sinal também que não houve nada grave”, garante ela. “Naquele momento, houve esse desencontro. Respeito muito o trabalho dele e acho que ele respeita o meu.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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