A coragem de trocar o certo pelo duvidoso é o grande trunfo de “Inverno da Alma”, filme de Debra Granik que estreia hoje nos cinemas. O longa recebeu quatro indicações ao Oscar – melhor filme, roteiro adaptado, ator coadjuvante (John Hawkes) e atriz (Jennifer Lawrence). Além disso, foi vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival Sundance 2010 e indicado a sete Independent Spirit (premiação que será realizada no dia 26 de fevereiro, um dia antes do Oscar).
Quando uma sessão de “Inverno da Alma” começa, sua história (ou a força motriz dessa história) já aconteceu. Os espectadores são, delicadamente, convidados a construir um quebra-cabeça de fatos não contados e segredos em família – para, no final, descobrirem que a beleza do filme está guardada naquele espaço em branco deixado pelas peças que ainda estão faltando.
O público acompanha essa saga desde o momento em que Ree Dolly (Jennifer) – uma garota de 17 anos, responsável pela criação de dois irmãos mais novos e de uma mãe doente – recebe a visita do xerife de Ozark, no sudoeste do Missouri, interior dos Estados Unidos. A notícia que Ree recebe da autoridade local não tem rodeios: para ficar em liberdade condicional até o dia do seu julgamento, o pai de Ree havia empenhado os bens da família (um pedaço de terra devastada e uma pequena casa). Portanto, caso o pai não apareça perante o juiz, na data marcada, Ree, irmãos e mãe perderão tudo.
Por que o pai de Ree havia sido preso? Por que fugiu? Qual seria o seu paradeiro? E como seria a relação dele com os filhos e a mulher? São perguntas que serão, em parte, respondidas ao longo do filme. Mas não se enganem. Mesmo de posse de algumas respostas, você (espectador) nunca terá o conforto de um quadro completo.
A partir da visita do xerife, Ree inicia sua peregrinação em busca do pai. Ela precisa encontrá-lo e convencê-lo a comparecer à audiência. Ou, na pior das hipóteses, descobrir se ele está morto – e assim também evitar o despejo. Na caminhada de Ree, a paisagem triste e seca de Ozark vai se descortinando. Do mesmo modo que o lamento da música country acompanha o destino dos personagens (não tem Wilco na trilha sonora, mas os fãs da banda irão, com certeza, imaginar várias cenas sendo costuradas pelo som dos caras). John Hawkes, que interpreta o tio de Ree, está surpreendente no papel. Merecida indicação ao Oscar. As informações são do Jornal da Tarde.