Regina Cazé e outros ilustres artistas globais não podiam vir ao Paraná, a convite do governador Jaime Lerner, para a inauguração do Cine Theatro de Morretes, razão pela qual a festa foi transferida. Era para ser nesta segunda-feira dia 30 e agora será em 13 de outubro. Este seria o motivo do adiamento e não que o governador estaria descontente com o trabalho efetuado.
Arquitetos de Curitiba davam conta de que não só a reforma da Estação União, na divisa do Paraná com Santa Catarina, estava sendo feita de afogadilho. As obras do programa Velho Cinema Novo, que Lerner foi alardear no Festival de Gramado como salvação do cinema nacional, também estariam aceleradas demais, comprometendo até mesmo a qualidade da reforma. E comentava-se que o próprio governador mandou rever a execução das obras em Morretes.
A arquiteta Maria Luiza Marques Dias, chefe da divisão do Patrimônio da Secretaria da Cultura, negou alguma contrariedade de Lerner. Segundo ela, o governador apenas sugeriu alguns ajustes, como a questão de unidade visual; e que a transferência para o dia 13 era necessária, não só devido à agenda dos convidados, como pelo fato de o prazo ter sido muito exíguo para as obras.
Morretes, enfim, vai ganhar um cinema. Porque o que está sendo reformado é um prédio da primeira década do século XX, que na verdade não era cinema. E será muito bem equipado. “Só não dará para encenar a ópera Aída porque o palco não comporta um elefante”, sugere Maria Luiza.
No entanto, o apego do governador por artistas que lhe possam dar visibilidade nacional, como é o caso da atriz Regina Cazé, pode ser vista como uma indelicadeza com os artistas do Paraná.
Na Lapa, por exemplo, está uma dezena deles. É que lá começa nesta segunda-feira as filmagens de Quanto Vale ou É Por Quilo?, novo longa do premiado ponta-grossense Sérgio Bianchi, que também vai filmar em Morretes e Paranaguá. No elenco estão Odelair Rodrigues, que vem sendo homenageada à margem da oficialidade, Emílio Pitta, Claudete Pereira Jorge, atores tarimbados, dignos de honrarias. No entanto não se tem notícia de que algum cerimonial tenha pensado neles. Mas… quem sabe se até 13 de outubro… Ou 6 de outubro…
O programa Velho Cinema Novo vai ter como padrinho de cada unidade um nome do cinema nacional, vem dizendo Lerner em rodas de artistas. Os do Paraná nem sabiam do projeto. E os arquitetos, enquanto isso, assistem ao longe as obras aceleradas. A Lapa, que parecia ficar de fora por questões partidárias, vai ter seu cineminha também, falta apenas, segundo a Secretaria da Cultura, desapropriar o que lá está. O projeto é bancado com dinheiro internacional e executado pelo Paraná Cidade.
O Paraná Cidade, uma espécie de instituto terceirizado gerindo a serviço da Secretaria de Obras, é que vinha também gerindo a reforma da antiga estação de trem da cidade de União da Vitória-PR.
Os projetos de reforma (até deveria ser de restauro, quando se trata de unidade tombadas ou integradas a um conjunto urbanístico histórico) estão sendo distribuídos aos escritórios de arquitetura de Curitiba com muito carinho.
Cada arquiteto ganhou seu cineminha para projetar, um predião pra reformar, uma estação antiga para “enobrecer”. Até que de Santa Catarina veio o alerta. E a Justiça do Paraná resolveu colocar o trem nos trilhos. Isto é, mandou rever o projeto de reforma da centenária estação, pedindo o aval de um organismo federal, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.