Até pouco tempo, tudo não passava de uma brincadeira. Imitar pessoas famosas, como apresentadores de tevê, presidentes da República e locutores esportivos, era apenas um dos trunfos de humorísticos como Show do Tom, da Record, Pânico na TV, da Rede TV!, e Casseta & Planeta, Urgente!, da Globo. Até que Tom Cavalcante parodiou não apenas o apresentador Sílvio Santos, mas também diversos programas do SBT, como Gente que Brilha e Qual é a Música?. O objeto da paródia, porém, não achou lá muita graça da piada. Principalmente porque o Qual Era a Música? da Record, começou a angariar pontos no ibope, extraídos em grande parte do próprio SBT.
Logo, a brincadeira ganhou um tom nada jocoso. Sílvio Santos ameaçou entrar na Justiça se a Record não suspendesse a produção do Qual Era a Música?, sob a alegação de que ainda paga os direitos autorais do original norte-americano. Na mesma hora, o diretor do Show do Tom, Vildomar Batista, mudou o nome do quadro para Jogo da Música. Em vão. Para Vildomar, que trabalhou por 10 anos no SBT, os motivos que levaram o ex-patrão a acionar a Record foram outros. ?Antes de estrear o quadro, cheguei a ligar para o Sílvio e avisá-lo. Ele me disse que não tinha problema. O que ele não esperava é que o quadro fosse dar 10 de audiência?, apimenta o diretor. Esses 10 pontos significaram o segundo lugar na audiência, o que empurrou para terceiro o programa Fora do Ar, do próprio SBT
Por via das dúvidas, Wellington Muniz, o Ceará, que imita o apresentador Sílvio Santos no Pânico na TV, tratou de tomar algumas providências antes que sobrasse para ele também. Ao lado do inseparável Repórter Vesgo, esperou o apresentador do SBT sair do salão do cabeleireiro Jassa para pedir autorização para imitá-lo na Rede TV!. ?Sempre ouvi que o Sílvio gostava da minha imitação, mas nunca tive certeza disso. Jamais imitaria uma pessoa que não tivesse a importância dele?, bajula Ceará. A propósito, Sílvio autorizou a imitação, mas por prazo determinado: dois anos.
Sem achar graça
Mesmo sob o recorrente pretexto da homenagem, muita gente não gosta de ser imitada em público. Clodovil é um deles. Durante sua conturbada passagem pela Rede TV!, o estilista torcia o nariz para as brincadeiras que Ceará, com sua dentadura postiça e peruca branca, fazia com ele. ?Não tenho nada contra eles, mas acho um desrespeito o que fazem. Podem tirar sarro do vizinho, mas não da própria família?, protestou na ocasião. Na Record, desconfiava-se também que Roberto Justus não aprovava a paródia que Tom Cavalcante fez para o O Aprendiz. O publicitário, porém, jura que nunca implicou com Tompete Justus, nem com O Infeliz.
Exceções à parte, a grande maioria dos imitados parece se sentir lisonjeada por seus imitadores. Como Netinho de Paula, do Domingo da Gente, da Record. Atualmente, ele é satirizado por Vinícius Vieira no quadro Dia de Pobreza, do Pânico na TV. ?Ele poderia imitar qualquer um. Por que, então, logo eu? É sinal de que gosta de mim. Se bobear, é até meu fã…?, gaba-se. Há quem também não só gosta de ser imitado, como também dá sugestões para o imitador. Esse é o caso de Glória Maria, que vira Chicória Maria nas imitações de Hélio de la Peña, do Casseta & Planeta, Urgente!. ?A imitação só não é melhor porque não tenho os olhos verdes do Hélio. Mas já estou pensando em adotar lentes de contato…?, diverte-se a âncora do Fantástico.
Dos cassetas que fazem imitações na tevê, Hubert talvez seja um dos mais requisitados. Intérprete do Gavião Bueno, Viajando Henrique Cardoso e Xô Soares, entre outros, garante que os atores da Globo gostam de ser satirizados porque o programa funciona como uma espécie de termômetro para o sucesso desse ou daquele personagem. ?Tenho a impressão que, se pudesse, muita gente pagava para aparecer no Casseta?, exagera. Hubert só lamenta a impossibilidade de estender a veia satírica do grupo a vítimas de outras emissoras. ?Isso a gente deixa para o pessoal do Pânico…?, conforma-se.
Sílvio Santos, Gluglu, Canabrava…
Muitos humoristas começam na profissão fazendo imitações. Com Wellington Muniz, o Ceará, não foi diferente. Antes de virar o Sílvio Santos da Rede TV!, já fazia shows de humor em churrascarias e casas noturnas de Fortaleza. Quando mudou-se para São Paulo, em 1997, foi chamado por Emílio Surita para integrar a Turma do Pânico, na Jovem Pan. Por sugestão do próprio Surita, que o viu em um show na capital paulistana, passou a usar a dentadura da imitação do Ânderson, do Molejo, em todas as suas paródias, como de Clodovil e Dercy Gonçalves. ?Virou a minha marca?, frisa.
Companheiro de Ceará no Pânico na TV, Vinícius Vieira já trabalhava como locutor na Jovem Pan, quando tirava a hora de almoço para fazer imitações e contar piadas. Emílio Surita sugeriu então que ele imitasse Alexandre Frota, então integrante da Casa dos Artistas, do SBT, e passasse trotes para os ouvintes da rádio. E assim surgiram, entre tantos, Gluglu e Quietinho. ?A caracterização é sempre a parte mais difícil. Na do Faustão, por exemplo, a roupa é quente para danar. Já na do Netinho, tenho de pintar a cara toda. Não é mole, não!? resmunga.
A exemplo de Wellington e Vinícius, Tom Cavalcante também conseguiu sua primeira chance na tevê por conta de sua habilidade em fazer imitações. Foi durante um jantar em Fortaleza, onde Chico Anysio excursionava com seu show, que o cantor Raimundo Fagner falou do talento de Tom para imitar bêbados. ?Nem terminei a primeira piada e o Chico já caiu na gargalhada. Entrei no ar em 15 dias?, lembra o humorista, que estreou João Canabrava, um típico pinguço que narrava partidas de futebol, no extinto A Escolinha do Professor Raimundo, em 1991.