Com a era digital, a fotografia se popularizou em câmeras, que se proliferam em telefones móveis, de tal forma que se banalizou, tornou-se comum, sendo feita de forma desprovida da “arquitetura” tão peculiar à arte.

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Tal pensamento fotográfico, que antecede o melhor clique, é o que constitui as obras apresentadas pelo fotógrafo paulista José Rosa, durante a exposição Subterrâneas passagens, composta por 20 imagens de passagens urbanas de Brasília no formato 1,00 x 0,70m.

A exposição, que acontece no Espaço Cultural da Caixa, traz fotografias feitas a partir da técnica Pinhole, com a qual a imagem é reproduzida através de recipientes fechados que podem ser usados como câmeras artesanais, como latas e caixotes.

Para produzir as imagens, José Rosa conta que trabalhou com “câmeras” de vários tipos, tamanhos e formas. A maior delas foi um trailler, que virou uma câmera gigante sobre rodas.

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Nesta exposição, o fotógrafo, que atualmente reside em Brasília, retrata o que ele chama de “lado B” da capital federal, ou, o que há além das obras de Niemeyer. José Rosa fotografou becos, passarelas e espaços urbanos às vezes não tão visíveis. “Essas fotografias surgem da contemplação do fotógrafo, caminhando pelas ruas do Projeto Piloto de Brasília”, conta.

José Rosa conta que usando a técnica Pinhole, faz uma adaptação, retirando a lente da câmera digital. Na tampa do corpo da câmara é feito um furo, cujo diâmetro corresponde a uma espessura de uma agulha. “A foto é feita quando a sensibilidade da câmera capta a entrada de luz. Isso dá a foto uma textura peculiar”, afirma.

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Quem imagina que, por serem reproduzidas a partir de materiais rústicos, a qualidade das imagens pode ser uma surpresa. No entanto, ele conta que, mesmo fotografando com materiais artesanais, a técnica Pinhole requer muito trabalho.

“É uma técnica simples, mas não simplória. É preciso estabelecer uma relação matemática entre o diâmetro do furo e a distância do papel para se chegar num ideal”, diz.

Segundo Rosa, a exposição visa mostrar o comportamento da luz na formação da imagem, despertando a consciência crítica da arte. Para ele, em tempos de fotografia digital, as pessoas fotografam sem pensar, de forma instantânea.

“Roland Barthes (filósofo francês) fala que a fotografia é subversiva quando ela é pensativa. Não sou contra o digital, mas questiono esse fazer fotografia de forma gratuita. No artesanal impera o pensar antes do clicar”, afirma.

José Rosa também é criador do Projeto Fotolata – Arte & Ciência em 2000, desenvolvido em São Paulo e dedicado ao estudo e pesquisa da fotografia artesanal. 

O projeto tem como objetivo desmistificar a complexidade técnica da fotografia e possibilitar a compreensão dos fenômenos físico/químico e eletromagnéticos que a envolvem, utilizando a técnica pinhole.

No projeto de José Rosa, são realizadas oficinas com aulas teóricas e práticas, onde ocorre a captação de imagens com câmeras artesanais, revelação e exposição dos trabalhos. “Tudo o que se faz nesse projeto acontece no limiar da ciência e da arte. O Projeto é feito para promover o conhecimento através da fotografia”, sentencia.

Serviço

Exposição Subterrâneas passagens, do fotógrafo José Rosa. Aberta até o dia 18 de outubro, na Galeria da CAIXA (Rua Conselheiro Laurindo, 280). De terça a sábado, das 10h às 21h, e do,mingos das 10h às 19h.