O Ateliê de Criação Teatral (ACT) lança segunda-feira, às 19h, o livro Kazuo Ohno (Cosac&Naify – 144 pág. – R$ 69), com cerca de 100 imagens inéditas do fotógrafo Emidio Luisi e textos da crítica de dança Inês Bogéa. A obra traz ainda entrevistas nunca publicadas em livro, além de depoimentos pessoais do dramaturgo Antunes Filho e do próprio Emidio Luisi, que trabalha com teatro e dança há mais de 30 anos e registrou de perto duas passagens de Kazuo Ohno pelo Brasil, em 1986 e 1997, ambas em São Paulo.
Inês estará no evento e apresenta na Sala Kazuo Ohno, no ACT, o DVD Beauty and Strength, sobre a vida e obra de um dos dois criadores da dança Butô (a Dança das Trevas). Depois de um bate-papo, estará à disposição para autógrafos. Num segundo momento do lançamento, entre os dias 23 e 25 de maio, o fotógrafo Emidio Luisi estará no ACT para orientar a oficina Caçadores de Imagens um Fotógrafo em Busca de um Palco. As inscrições estão abertas e as vagas são limitadas.
Na publicação, Inês Bogéa introduz a poética singular criada pelo bailarino japonês, resgata declarações dele sobre sua arte e conta a história do surgimento do butô, no final dos anos 50, integrando o contexto das vanguardas japonesas. O novo estilo, criado por Tatsumi Hijikata (1928-86) e Kazuo Ohno, combinava dança e teatro, em torno dos temas do nascimento, da sexualidade, do inconsciente, da morte e do grotesco, entre outros. No butô, descreve a autora, “o corpo é esvaziado de referências culturais e se entrega a todo tipo de metamorfose”.
O projeto de documentar as passagens de Ohno pelo país foi iniciado de maneira independente por Emidio Luisi há 16 anos, a partir de dois encontros quase casuais entre o fotógrafo e o dançarino, uma das maiores personalidades vivas da dança, hoje com 96 anos e ainda em atividade.
A primeira sessão de fotos, em 1986, aconteceu no Teatro Anchieta, do Sesc Consolação. A produção do espetáculo não havia permitido a realização de imagens, contudo Luisi resolveu se dirigir ao local dos ensaios com sua câmera. “Quando acabou a marcação, ele ficou sentado na beira do palco e as poucas pessoas que estavam ali foram se dispersando. Ele ficou sozinho, com uma toalha nas costas. Fui em sua direção, munido da câmera. Nosso entendimento se fez por sinais e eu o segui até o camarim”, relembra.
Na ocasião, Luisi ficou ao lado de Kazuo Ohno por quase três horas, enquanto ele maquiava o corpo para a apresentação daquela noite, a famosa coreografia Admirando la Argentina. Em suas imagens, Emidio Luisi revela as transformações operadas no corpo de Ohno. “Seu ritual tinha um tempo próprio e regular. Paulatinamente, seu corpo foi se revestindo de branco, seu cabelo solto e arrumado. Um tempo longo e intenso. Estive com ele até o momento em que já se havia transformado em La Argentina, lembra o fotógrafo. “Este livro é uma tentativa de contar a história das mutações no corpo de Kazuo Ohno por meio de imagens. Interpretar, com a câmera, seu gestual único”.
O projeto só teria continuidade onze anos depois, no último dia da Terceira e última visita do bailarino ao país, em 1997. Novamente, a sorte transformou o desejo de Emidio Luisi em nova sessão de fotos com Kazuo Ohno. Muito antes do horário previsto para as apresentações, o fotógrafo se dirigiu à sede do evento multicultural Babel, um posto de gasolina abandonado (onde seria instalado o Sesc Pinheiros), para reconhecer o espaço em que, mais à noite, mostraria novamente aos brasileiros Admirando la Argentina e faria algumas improvisações.
Ao chegar, por volta das duas horas da tarde, Luisi deparou, surpreso, Com Kazuo Ohno em pessoa, que havia ido ao local para observar algumas mudanças introduzidas no cenário. “Percebi que aquele novo encontro iria completar o que começara muito antes: um diálogo no silêncio, iniciado naquele dia de 1986 e terminado só nessa noite, onze anos depois”. Começou ali nova seqüência de imagens exclusivas, desta vez ainda mais volumosa, que registrou a chegada do bailarino, sua marcação de movimentos no palco, uma sessão de maquiagem à vista do público e, por fim, sua apresentação.
A partir das cerca de 600 chapas batidas por Emidio Luisi no Brasil foi feita uma pré-seleção de 200 fotos, das quais cerca de 100 imagens em preto-e-branco foram escolhidas para ilustrarem o livro. Além destas, a obra conta com um encarte especial, contendo 16 pranchas avulsas, coloridas. A montagem e composição das páginas de Kazuo Ohno não segue o padrão convencional e usa a técnica da costura japonesa.
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O ACT fica na Rua Paulo Graeser Sobrinho, 305. Informações pelo fone: (41) 338-0450 ou pelo site www.act.art.br.