Na tarde da última segunda-feira, a imagem barroca de Cristo crucificado voltou ao seu lugar, na imponente parede do transepto – galeria que separa a nave central do corpo da igreja -, à esquerda do altar-mor da Basílica Nossa Senhora da Assunção, mais conhecida como igreja do Mosteiro de São Bento. Auxiliado por quatro homens, o restaurador João Rossi colocou a preciosidade de volta. Simbolicamente, o maior restauro da centenária igreja, marco histórico-religioso do centro, completou mais uma etapa.

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Agora, as três imagens sacras mais importantes do acervo do Mosteiro de São Bento estão novinhas em folha. Primeiro, foram recuperadas as estátuas de São Bento e de Santa Escolástica, ambas de barro, feitas pelo monge beneditino Agostinho de Jesus no século 17, pioneiro da escultura no Brasil. Agora, foi a vez do Crucificado, obra em cedro de autoria de José Pereira Mutas, esculpida em 1777 sob encomenda para os beneditinos.

“Ninguém que está vivo a conheceu como era de fato”, conta o restaurador, que dedicou-se à imagem nos últimos cinco meses. Isso porque a cruz onde Cristo está preso era coberta por tinta preta. No trabalho de recuperação, Rossi descobriu que originalmente havia um friso folheado a ouro 22 quilates. “Deve ter sido recoberto por tinta preta nos anos 1920.”

Antes do restauro, a peça estava danificada por poluição e gordura. “É comum que os fiéis toquem nos pés da imagem, em sinal de veneração”, afirma o monge beneditino João Baptista. “Apesar de ser uma obra de arte, preferimos não interferir na devoção.” Rossi confirma: os pés do Cristo estavam deformados e ele precisou corrigi-los com gesso. Uma das paredes do transepto também foi reformada.

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A basílica dos beneditinos integra o conjunto arquitetônico – projetado pelo alemão Richard Berndl (1875-1955) – erguido de 1910 a 1914 no Largo de São Bento. Tombada em 1992 pelo órgão municipal de proteção ao patrimônio (Conpresp), a igreja passou por uma restauração, de menores proporções, em 1978, para recuperar danos causados pela construção da Estação São Bento do Metrô.

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O valor investido na obra e o patrocinador não são informados pelos beneditinos. “Mas o pagamento está garantido até o fim da obra”, diz Baptista. Segundo Rossi, até julho, a outra parede do transepto será concluída. Depois, com mais um ano de obra, ele terminará toda a nave. O órgão de 6 mil tubos também está sendo restaurado.

O Mosteiro ocupa o mesmo terreno desde 1598. Edifícios foram reformados, demolidos e construídos. Este último conjunto, que completa cem anos, foi decorado entre 1912 e 1922.