Luiz Fernando Carvalho aposta mais uma vez na cultura nordestina em sua próxima microssérie, desta vez com caras novas encabeçando o elenco. Com estréia prevista para junho, A Pedra do reino – gravada em Taperuá, no sertão da Paraíba – arrisca ao usar atores regionais praticamente desconhecidos conduzindo a história. Entre eles, o estreante Irandhir Santos, que vive o protagonista Quaderna. A trama é baseada no romance homônimo de Ariano Suassuna e mistura fantasia e realidade em uma linguagem fantástica, retratando os delírios do personagem central.
Durante o Estado Novo, o bibliotecário Quaderna passa a acreditar ser ?rei?, depois de analisar sua árvore genealógica. Além de suas pretensões ?monárquicas? serem consideradas suspeitas, o juiz corregedor, de Cacá Carvalho, investiga sua participação em um assassinato. Assim como nas duas edições de Hoje é dia de Maria, a microssérie incorpora elementos da linguagem teatral, uma experiência que o diretor Luiz Fernando Carvalho pretende continuar. Ele acredita que a tevê possa ser mais do que diversão e, por isso, procura dar uma dimensão artística a seus trabalhos. ?É necessário que os verdadeiros profissionais dessa área pensem nisso como uma nova missão. Ou sigo por este caminho ou, para mim, nada faz sentido?, justifica.
A idéia de escalar atores com pouca experiência em teledramaturgia favoreceu o trabalho do preparador de elenco, o ator Ricardo Blat. Apesar de parte do grupo já ter participado de alguma produção cinematográfica ou televisiva, a formação teatral dos selecionados ajuda na hora de intensificar as reações e os sentimentos dos personagens. ?Aqui a linguagem é mais expressiva. A gente amplia emoções através do gestual, do olhar. Isso ajuda a contar a história de maneira completa?, argumenta Ricardo, que trabalhou com Luiz nas duas temporadas de Hoje é dia de Maria.
O pernambucano Irandhir Santos, de 28 anos, tem algumas peças e três filmes no currículo – Cinema, aspirinas e urubus, Baixio das bestas e Amigos de riscos, que será lançado em 2007. Acreditando que o protagonista é um ?ponto de interrogação ambulante?, o ator arranjou um jeito inusitado de compor o personagem: decidiu aplicar, ao pé da letra, esse formato na postura corporal. ?Ele tem bundinha empinada e o peitinho para frente?, brinca, carregando no sotaque. Irandhir não tinha lido o texto até receber do diretor um exemplar do livro. ?Quando falei da minha admiração pelo Quaderna, o Luiz disse que era meu?, lembra.
Natural de Campina Grande, a atriz Millene Ramalho levou um susto ao ser selecionada para viver Margarida, mulher escolhida pelo juiz corregedor para ser sua datilógrafa durante o inquérito. A atriz, de 25 anos, saiu da cidade natal para estudar Artes Cênicas no Rio quando tinha 17 anos e, disposta a aprimorar seus conhecimentos, embarcou em uma viagem à Europa para cursos de interpretação e canto lírico. Foi nesse período que seu material foi encontrado na emissora. a atriz fez pequenas participações em Da cor do pecado e Belíssima. ?Fui chamada no meio de setembro. Peguei um avião de Paris para o Rio e, no dia seguinte, estava viajando para a Paraíba. Foi uma correria?, diz Millene.
A adaptação do livro, lançado em 1971 por Ariano Suassuna, abre caminho para Luiz Fernando colocar em prática um sonho que já dura 20 anos: o projeto Quadrante, que retrata cada estado brasileiro através de uma obra literária. Para a próxima edição – a idéia inicial é produzir duas microsséries por ano, a obra literária já foi escolhida: Corpo presente, de João Paulo Cuenca, explorando o cenário carioca. A meta é trabalhar em todos os estados do país. ?Postos lado a lado, os textos revelarão, a exemplo de um caleidoscópio, um Brasil rico culturalmente, mas com sentimentos contraditórios?, explica Luiz Fernando.