Nos últimos dez anos, Luiz Fernando Carvalho não fez outra coisa senão tentar convencer a Globo a produzir Hoje é dia de Maria. Quando conseguiu, o diretor de Renascer, O rei do gado e Esperança pôde finalmente transformar em realidade o sonho de adaptar para a tevê contos populares de Câmara Cascudo e Sílvio Romero, dois dos mais famosos folcloristas brasileiros. O resultado surpreendeu à própria Globo. Exibida em janeiro deste ano, Hoje é dia de Maria alcançou média geral de 30 pontos e "share" de 50%. "Os contos em que me baseei para fazer a microssérie são todos de forte apelo popular. Não tinha como o povo brasileiro não se identificar com o que estava vendo na televisão", orgulha-se.
De fato, o sucesso foi tanto que, menos de um ano depois, a Globo anuncia a segunda temporada de Hoje é dia de Maria para 10 de outubro. Para não se repetir, Luiz Fernando tomou o cuidado de fazer a segunda versão mais musical que a primeira e transpor a narrativa do campo para a cidade. Desta vez, Maria, interpretada por Carolina Oliveira, de 10 anos, sai à procura de si mesma em uma metrópole devastada pela guerra. Além da segunda temporada, Hoje é dia de Maria ganha também trilha sonora em CD e versão para o cinema. Por enquanto, Luiz Fernando só descarta mesmo é a hipótese de haver uma terceira temporada. "Não há a menor possibilidade. E por um motivo simples: em um ano, a Carolina mudou muito. Daqui a pouco, já vai estar adolescente…", lamenta.
P – Quando você percebeu que Hoje é dia de Maria renderia uma segunda temporada?
R – Desde o início, sentia a necessidade de completar a história, fechar um ciclo… Imediatamente, pedi à Globo que não desmontasse o "domo" porque estava decidido a escrever uma segunda parte para Hoje é dia de Maria. Eles toparam e eu escrevi. Mesmo assim, não queria me repetir. Nem que o elenco se repetisse. Então, propus que a segunda temporada fosse mais musical que a primeira. E, principalmente, mais social também. Isso tem a ver com o momento político que estamos vivendo.
P – Apesar do horário ingrato, você esperava que a microssérie registrasse uma média geral de 30 pontos no ibope?
R – Em termos de audiência, eu não sabia se o programa ia dar certo porque era exibido muito tarde. Era quase uma "Sessão Coruja"… Mesmo assim, desconfiava que pudesse dar certo porque confiava muito nos contos populares de Câmara Cascudo e Sílvio Romero. São contos escritos "pelo" e "para" o povo. Por isso mesmo, têm forte apelo popular. Não tinha como o público não se identificar com aquilo…
P – Você já pensa em fazer a terceira temporada de Hoje é dia de Maria?
R – O que posso dizer é que o Câmara Cascudo possui um material vastíssimo, diria até infinito. Se fosse o caso, daria até para fazer uma série diária. O problema diz respeito à Carolina. Todas as noites, antes de dormir, agradeço a Deus por tê-la encontrado. Sem ela, talvez não tivesse feito Hoje é dia de Maria. E a Carolina, como você pode verificar, está crescendo. Daqui a pouco, ela já vai ser uma adolescente. Por isso mesmo, tenho a consciência de que estou fazendo a segunda e última temporada da série.