No outono do hemisfério norte de 1984, o Jethro Tull estava em Los Angeles para uma série de shows no Universal Amphitheater. No primeiro concerto – e assim deve ser chamado um show daquela banda -, Ian Anderson, o criador da lendária banda de rock progressivo, um sujeito sério, virtuose, pesquisador de música medieval britânica, logo na primeira música, parou de tocar flauta e gritou do palco para a turma das primeiras filas na platéia: ?Parem de fumar maconha porque a fumaça está me incomodando?. O pessoal riu. Na segunda música ele pediu novamente e disse que sairia se ninguém parasse. Nada mudou. Ian saiu do palco, do teatro e foi embora. Não tocou mais em Los Angeles naquele ano.
Essa é a imagem e atitude que guardo de Ian Anderson, que se apresenta amanhã no Teatro Guaíra, com 28 músicos da Orquestra Popular Paulista. Anderson está desenvolvendo atualmente seu mais recente projeto, a singular junção entre uma banda de rock and roll progressivo e uma orquestra de música clássica, composta de 28 músicos brasileiros. É um apelo perfeito para ir ao Guaíra.
Uma vez, em entrevista coletiva em Nova York, eu perguntei para Anderson quem ele considerava o melhor roqueiro de todos os tempos. Sem vacilar, ele respondeu: ?Beethoven, porque ele viajava em suas atitudes e em suas composições, que são muito mais agressivas e bem elaboradas do qualquer música de rock?. Em seguida, perguntei se um dia ele iria passar a tocar clássicos. Ian, mais uma vez sem dúvida alguma disse que a tendência era essa e que estava pesquisando música celta do ano 1000 em diante. O sujeito é uma fera e ponto final.
Ian Anderson agora traz seus talentos acústicos para o palco orquestral. Sua performance inclui uma seleção das favoritas canções solo e instrumentais do Jethro Tull, juntas com uma seleção de repertório clássico, cuidadosamente rearranjado para a flauta amplificada, para o trio de rock acústico e, claro, para os membros da Orquestra Filarmônica Royal.
Neste concerto, fãs do Jethro Tull vão reconhecer músicas como Aqualung, Locomotive Breath, My God, Bouree e Budapest, com uma grande variedade de pedaços do material acústico de Anderson, do velho ao novo.
Além dos 28 músicos da Orquestra Popular Paulista, com 14 violinos, quatro violas, contra-baixo, flauta, trombone e trompete, Ian Anderson também terá ao seu lado uma banda de rock and roll formada por John O´Hara (condutor, acordeão, piano), Florian Opahle (guitarra), James Duncan (bateria, percussão) e David Goodier (baixo).
?O objetivo aqui não é forçar inimigos em um matrimônio?, diz Ian. ?A banda de rock e a orquestra voltam para o rock progressivo dos antigos anos 60s. Como músico acústico do Jethro Tull, eu prefiro uma mais simpática síntese da clássica guitarra, piano, bateria e baixo, juntos com os tradicionais instrumentos da orquestra. Este é um ambiente posto para que os músicos possam sair do teatro, com os ouvidos e a dignidade intactos!?
Serviço:
Ian Anderson e Orquestra
Data: 13/4, quarta-feira
Local: Teatro Guaíra – Praça Santos Andrade. Ingressos antecipados na bilheteria do teatro
Platéia: R$ 200 1.º Balcão: R$ 130 2.º Balcão: R$ 120
Informações: 304-7979