Russell Brand começou sua carreira como apresentador do Big Brother inglês. Foram suas piadas sarcásticas e humor perspicaz que o levaram ao estrelato. Desde lá, ele se tornou também ator, aparecendo em alguns filmes de Hollywood, sem muito sucesso. Agora, o comediante britânico de 38 anos quer levar o seu humor áspero à política. E quer ser ouvido como voz da revolução. Recentemente, Brand foi convidado para editar uma importante revista política americana, a New Statesmen, em que escreveu um grande ensaio clamando o povo por “revolução total no sistema econômico e político”. Mas é preciso distinguir o discurso do vocabulário rebuscado e charmoso de Brand.
O jornal O Estado de S.Paulo esteve em um encontro em que o humorista discutiu política com um pequeno público em Londres há algumas semanas. “Quando eu falo em revolução, eu digo revolução na consciência, sem genocídio. Como Ghandi fez, desobediência sem violência. Eu clamo por desobediência”, disse. “Eu não votei e não acho que valha a pena votar. No momento que você for representado justamente na política valerá a pena, mas no momento ninguém está fazendo nada. Nós merecemos melhor. Aquelas pessoas que estão no poder são egoístas e não sabem o que é sofrer como as pessoas que eles representam.”
Brand cresceu em uma área pobre da cidade de Essex, nos arredores de Londres, com personalidade ambiciosa pela fama e sucesso. Ele já foi preso inúmeras vezes, a maioria por ocorrências ligadas ao vício em heroína. Hoje, limpo, ele luta para ajudar viciados. “Não há sentido em criminalizar as pessoas porque elas não estão bem. Elas não fazem por prazer, mas por dor, por vazio.” Sobre a fama que tanto perseguiu, confessa: “Não vale a pena. Eu ainda me sinto vazio por dentro. Eu reconheço em mim qualidades como egocentrismo e egoísmo, e por isso eu prefiro uma sociedade que não estimule e celebre os piores aspectos da nossa espécie”, diz.
Nem todo mundo concorda com o ator. O The Sun, por exemplo, o chamou de “o maior hipócrita do Reino Unido”. E muitos dos que o atacam relembram que o humorista, sempre bem vestido, é endinheirado e portanto falso moralista. “Quando eu era pobre e também reclamava, as pessoas me chamavam de amargo. Hoje, se eu reclamo, elas me chama de hipócrita. Os ricos e políticos não querem que falemos sobre estes assuntos. Eles querem que nós conversemos sobre Justin Bieber e o rebolado da Myley Cyrus”, diz. “Eu sei disso, pois eu tenho sido parte dessa charada, mas estou fora agora.”
Em momento de modéstia, ele confessa que não é de fato dono de todo o conhecimento. “Eu não frequentei escola privada e não sou político”, diz, confessando não saber quem é Bashar al-Assad, presidente da Síria. “Eu não gosto da Família Real. Eu não gosto de Olimpíadas ou eventos que nos fazem ser passivos e consumidores. Eu não gosto de estruturas hierárquicas que nos informam que somos proletários e que precisamos de figuras superiores. A realeza é estúpida e nos custa dinheiro”, comenta.
A turnê de Brand vai passar por universidades, mesquitas e presídios. Nela, ele fala de heróis – de Ghandi e Jesus a Malcom X -, apontando suas virtudes e defeitos, e muitas das ideais revolucionárias que vem pregando em entrevistas. Mídia, nazismo, McDonalds e o Primeiro Ministro estão presentes nas piadas. “Eu olhei na internet e comunismo significa dividir”, diz ele no palco. É sem dúvida interessante ver um show que nos faz pensar enquanto rimos, mas alguns não gostam. Na apresentação em Londres acompanhada pelo Estado, ele foi chamado de idiota e às vezes, vaiado.
O homem que recentemente foi expulso da premiação da revista GQ por fazer piadas ligando uma marca de luxo aos nazistas é inteligente e carismático e quer ser ouvido. Talvez seu maior talento seja nos seduzir com naturalidade. “Eu estou tentando o meu melhor. Estive nos dois lados, em filmes e em festas glamourosas e acredite, não há nada para se animar”, diz ele sobre os bastidores do entretenimento. “Eu sou só um sujeito, mas eu não tenho nada melhor para fazer no resto da minha existência”, completa, quando perguntado sobre o que o levou a discursar sobre política. “Esse é o momento. Isso é real. Estou feliz de estar aqui nesse momento e falando de coisas com as quais realmente me importo.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.