Qualquer semelhança entre o personagem Mário Jorge, de Toma lá, dá cá, e Caco Antibes, do extinto Sai de baixo, é mera coincidência. Ou não, se levarmos em conta as palavras do intérprete das duas figuras, Miguel Falabella. ?Os dois são iguais. Só sei fazer uma coisa, mas faço bem e o povo gosta?, debocha o ator. Desde que o novo humorístico estreou as comparações entre os dois programas são recorrentes. E a maior diferença até o momento parece ser a audiência. O atual registra uma média de 26 pontos no ibope enquanto o dominical que ia ao ar após o Fantástico chegou a marcar 52 de pico em seu primeiro ano de exibição, 1996. Miguel, que também é autor de Toma lá, dá cá, ao lado de Maria Carmem Barbosa, ignora qualquer confronto e diz que está fazendo um novo tipo de humor. ?São linguagens diferentes. Sai de baixo era quase circense e tinha performances individuais. Toma lá, dá cá tem história?, defende.
P – Você atuou em Sai de baixo e, agora, além de integrar o elenco, é autor de Toma lá, dá cá. Você concorda com as inevitáveis comparações feitas pela imprensa entre os dois projetos?
R – As linguagens são diferentes. No Sai de baixo a platéia era um personagem e não havia quarta parede. O humor do programa – que eu adorava fazer – era praticamente circense. Em Toma lá, dá cá a gente tem uma platéia porque ela nos excita, afinal somos todos artistas que adoram o palco. Mas há quarta parede. Além disso, o Sai de baixo transgredia a linguagem da televisão mas pecava em teledramaturgia. Como às vezes não tínhamos histórias consistentes, cada um dava o seu show individual. A verdade é que as situações não precisavam ser plausíveis.
P – Em Toma lá, dá cá as histórias são plausíveis?
R – A gente tenta ter histórias plausíveis, mas claro que sempre extremadas porque a comédia tem uma lente de aumento sobre a idiossincrasia das pessoas. Os traços são todos reforçados. A avó moderna, no nosso caso, é uma avó ultramegamoderna. A gente criou uma verdadeira paquitona.
P – Vocês substituem A diarista, ?sitcom? que tinha um formato com mais cenários e também externas. A estrutura mais simplificada de Toma lá, dá cá não é um passo atrás?
R – O espaço único do apartamento nos obriga a fazer uma ginástica de dramaturgia para adequar as histórias todas naquele lugar. A gente não consegue respirar porque não há externas. Mas é esse confinamento que acaba criando a linguagem própria do programa e que não é, necessariamente, realista. Enfim, é um tipo diferente de comédia, não inferior.
P – Como em suas novelas, você diz que em Toma lá, dá cá está o retrato da classe média brasileira. Por que o fascínio por esse grupo?
R – Eu fui criado na classe média e tudo nela me fascina. É uma classe esmagada, repleta de sonhos que não consegue realizar porque não tem dinheiro. As pessoas muito pobres ou muito ricas podem fazer tudo o que querem da vida porque têm muita opção ou por falta de opção. Já a classe média é presa a valores. Desse grupo podemos tirar personagens como os do programa, que vivem em um condomínio que mais parece uma prisão. A síndica é uma louca ditadora, a filha do casal adora encontrar pitboys em bailes funk e o meu personagem, como um bom brasileiro de classe média, não sabe muito bem como educar os filhos, impor limites. Eles têm os problemas de todos nós e por isso fascinam.
