Humor corre nas veias

Cláudia Raia não acredita que possa encarar qualquer personagem. A contar seus papéis na tevê, porém, parece que ela tem uma galeria ilimitada de tipos. Já encarnou, por exemplo, a “sapata” Tonhão do humorístico “TV Pirata”, a tentadora Engraçadinha da minissérie “Engraçadinha, Seus Amores e Seus Pecados”, baseada na obra de Nélson Rodrigues, a escandalosa Tancinha, de “Sassaricando”, e a gelada Ângela, de “Torre de Babel”, duas novelas de Sílvio de Abreu.

A convite do mesmo autor, a atriz pensou ter extrapolado com a transexual Ramona de “As Filhas da Mãe”. Mas a vampirona Mina, de “O Beijo do Vampiro”, rompeu a fronteira da mortalidade e foi ainda mais longe. “Ela pode tudo. E eu gasto horas de produção: uso aplique, lente, prótese, viro uma velha encarquilhada e até morcego”, diverte-se, referindo-se às mutações que sofre na novela de Antônio Calmon.

De fato, Mina tem muitos poderes e pertence a uma casta superior de “sanguessugas”. Mas sofre porque é estéril e não pode dar um filho a Bóris, o vampiro-mor vivido por Tarcísio Meira. Como o marido tratou de providenciar o sucessor com outra, ela está decidida a travar uma batalha sobrenatural com o predestinado. No caso o Zeca, de Kayky Britto – que, ao completar 13 anos, será mais poderoso que o pai. “A história tem drama, humor, realismo, ficção… É para todos os gostos”, valoriza.

Cláudia faz o papel destinado, inicialmente, à atriz Christiane Torloni, que optou em protagonizar a próxima novela das oito, de Manoel Carlos. “Fico honrada porque a Christiane é bárbara. Mas o Calmon disse que a Mina era a minha cara e fez questão de me ter na novela”, despacha. De fato, o autor terá de mudar a história em função da atriz. Afinal, Mina é infértil – e Cláudia está grávida de cinco meses. Antes de aceitar o convite, a atriz avisou que ela e o ator Edson Celulari pretendiam encomendar um irmãozinho para Enzo, de cinco anos – e, talvez, ele já estivesse a caminho. “O Calmon garantiu que, assim, a trama ficaria ainda melhor”, conta Cláudia, que espera uma menina. Já a vampira pós-moderna vai se submeter a uma inseminação artificial.

P

– Você havia destinado este ano para tirar férias de novela, montar uma peça e ter mais um filho. Por que mudou de idéia?

R

– Simplesmente não deu para resistir à Mina. Ela é engraçada, poderosa, louca, má, profundamente sensual… Estou amando fazer esta personagem. Só de ler o roteiro eu dou risada. É o tipo de humor que eu gosto e sei fazer. Mas em nenhum momento pensei em abrir mão de engravidar nem de esconder minha barriga. Era minha condição para estar na novela.

P

– A Mina é estéril e este é um ponto-chave da trama. Mas o autor de “O Beijo do Vampiro”, Antônio Calmon, aceitou mudar os rumos da personagem para que você pudesse interpretá-la grávida…

R

– E fiquei muito feliz por isso. Quando o (diretor) Marcos Paulo me chamou, eu disse que tinha o projeto de engravidar este ano – e talvez o neném já estivesse até a caminho. Ele avisou ao Calmon, que pediu um tempo para pensar. Duas horas depois, ele ligou e disse que me queria de qualquer jeito. Que mudava até a história porque eu era a cara do papel. Não tive nenhum sintoma e comecei a gravar sem saber que estava grávida. Assim que descobri, falei com o Calmon. Ele me garantiu que a história vai ficar ainda melhor com uma vampira barriguda!

P

– Quais foram os artifícios que você encontrou para compor a personagem?

R

– Não busquei nada específico em livros ou filmes porque a gente quis criar um tipo que fugisse de tudo que já se viu. A maquiagem é diferente, com um toque só dela. A Mina tem um figurino ousado, que não segue um único estilo. Vai do chinês ao nórdico, sempre em tons escuros. E quando ela fica brava e se transforma em morcego? Os dentes crescem, os olhos ficam amarelos, o cabelo vira uma juba laranja… Como se ela estivesse toda arrepiada. É uma loucura! Eu compus a personagem a partir desses elementos. O mais difícil é que preciso ficar sempre atenta à continuidade. A gravação é interrompida até quatro vezes para mudanças. Botar aplique, lentes de contato, caninos… Realmente, é uma novela trabalhosa de fazer.

P

– Muita gente tem medo de se envolver com temas “negativos” como vampiros…

R

– Isso é bobagem! Mas, se eles existem, espero que fiquem bem longe da gente! A novela é uma brincadeira, uma ficção. Acredito em todas as energias e acho que nós estamos cobertos de vibrações boas para fazer esse trabalho. A verdade é que as obras realistas, em geral, são muito mais pesadas que uma comédia sobre vampiros.

P

– Seu último trabalho na tevê viveu uma transexual, em “As Filhas da Mãe”. Agora, você interpreta uma vampira… E, depois, o que virá?

R

– Bom, o Marcos Paulo (diretor) já me disse para ir me preparando… Depois dessa, pode ser qualquer coisa. Um homem, um macaco, um extra-terrestre… Acho que um E.T. seria o máximo!

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