Um espaço de excelência para a ópera, a música e o balé, em diálogo com outras formas de manifestação artística e cada vez mais aberto à cidade e sua diversidade. Assim o diretor artístico do Teatro Municipal de São Paulo, Hugo Possolo, define o conceito que deve pautar sua gestão.

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Em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S. Paulo, na qual anunciou a programação do segundo semestre, o ator e diretor teatral defende a busca por maior experimentação em diálogo com novos olhares sobre a tradição. Após Rigoletto, de Verdi, que estreia no sábado, serão apresentadas as óperas Prism, de Ellen Reid, estreada em 2018 em Los Angeles e premiada com o Pullitzer, e a opereta A Viúva Alegre, de Lehar, com direção de Miguel Falabella. Espetáculos de teatro, circo e outras áreas também compõem a programação, sobre a qual Possolo fala na entrevista a seguir.

Ao nomeá-lo, o secretário municipal de Cultura, Alê Youssef, falou no conceito de um Teatro Municipal “multicultural”. O que lhe foi pedido por ele?

Nada foi encomendado. Nós dialogamos sobre possibilidades a partir do que significa o Municipal para a cidade. O Municipal é o palco de ópera e de música, e a gente queria ter o cuidado de refletir sobre o que seria uma programação que respeitaria a diversidade paulistana sem ser contraproducente àquilo que hoje já existe e é feito com excelência. Propus a ele que essa linha teria espaço principalmente no projeto Novos Modernistas, que tem dois eixos: a ideia de diversas linguagens e a representatividade de expressões que representam a ideia de ruptura da Semana de 22. Do ponto de vista da ópera, propus que não ficássemos limitados a certos cânones, que buscássemos provocar a linguagem cênica, mas também a linguagem criativa da música. Isso trabalha a favor da excelência que já temos aqui. Não queremos isolar linguagens, que podem estar ligadas na principal casa de espetáculos da cidade.

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Você falou no significado do Municipal. Qual deve ser ele?

O Municipal significou e significa um espaço musical de excelência, uma casa com expressão muito forte, mas um pouco voltada para si mesma. Podemos levar essa expressão para fora e trazer outras aqui para dentro, como na Virada Cultural, onde tivemos espetáculos de teatro no Municipal e um concerto no Pátio do Colégio. Há uma estimativa de que 30% do público de um espetáculo vem ao Municipal pela primeira vez. Se a gente amplia e ao mesmo tempo fideliza aquele que já acompanha, potencializa o recurso que é investido. Queremos um palco mais ocupado, por mais gente, gente diferente. Não se trata de popularização, o teatro já é popular, ele não é elitista. Aliás, acho que a elite deveria vir mais aqui para conhecer, patrocinar, ajudar.

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O Teatro Colón de Buenos Aires produz oito títulos por ano, em São Paulo são quatro. Há um receio de que a presença de outras áreas diminua mais o espaço para o gênero.

Há um medo, claro. Mas tenho a perspectiva de, no ano que vem, fazer cinco óperas, com o mesmo orçamento, mas dimensionando a proporção do investimento, com maior número de récitas. Quando dirigi ópera aqui, eram quatro récitas, com a possibilidade de mais uma; depois, foram seis, passou para oito, acho que tem que ir para dez, doze. Se esgotam os ingressos, é porque tem demanda, e se tem demanda, tem que fazer mais. É óbvio que precisamos ter em mente a divisão do palco com outras atrações, mas com saídas para outros palcos abre-se espaço para isso. Precisamos de uma constância maior, continuidade, permanência. E um critério é a participação maior dos corpos estáveis. Quero voltar com as Vesperais Líricas, com uma linguagem mais moderna. Ampliar a potência do que já se tem aqui dentro.

Nas óperas, o conceito é unir o tradicional a novas obras?

O tradicional é fundamental para o conhecimento, mas não precisa ser engessado pela ideia de tradição. Prism foi um achado do maestro Roberto Minczuk e é muito a perspectiva que quero dar ao teatro. Uma música de qualidade, requintadíssima, e ao mesmo tempo com uma temática contemporânea instigante, com uma poesia muito forte. E, de outro lado, A Viúva Alegre, com direção do Miguel Falabella, com toda a complexidade da ópera sem se distanciar do público. A ideia é expandir, mais récitas, maior relação com o público, uma casa com mais porosidade. Acabar com a hesitação das pessoas. Quando você faz uma peça de teatro com Dan Stulbach e ela lota, muita gente que nunca havia entrado aqui passa a se sentir à vontade.

E você acredita que há esse trânsito de público, ou seja, a pessoa que vem aqui para ver uma peça volta para ver uma ópera?

Acredito que sim. Quando você amplia o leque, cria intersecções. Se você cria as possibilidades, você muda. As pessoas vão ao Sesc independentemente do que está sendo apresentado.

O Municipal também engloba escolas de música e bailado. Como pensar em um diálogo da programação com elas?

Sem formação não há transformação. Não sou responsável diretamente pelas escolas, mas farei o possível para que essa interação aconteça. O Opera Studio tem acompanhado os ensaios de Rigoletto, há um apadrinhamento dos estudantes pelo Balé da Cidade. Isso é fundamental para os dois lados. Gosto da ideia de um Complexo Teatro Municipal de São Paulo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.