No começo dos anos 80 eles saíam das mais soturnas cavernas britânicas para espalhar o pretume pelo mundo. Cabelos desleixadamente desgrenhados, semblante de desesperança, grossos sobretudos, coturnos e uma ou outra presença de cores berrantes em roupas e maquiagens – principalmente em faces masculinas. Fizeram história como ícones do rock gótico (que na época acabou recebendo o nome de dark no Brasil), emplacaram diversos hits e álbuns clássicos e, durante os anos 90, resistiram à volta para as catacumbas.

Alguns continuaram seguidamente na ativa até hoje, outros precisaram tomar um gás durante alguns anos de intervalo. Mas o fato é que, curiosamente, acabaram construindo um grande séqüito de fãs nos Estados Unidos. Nos últimos anos, vários grupos que chegaram ao topo das paradas (dos alternativos Smashing Pumpkins aos nü metaleiros do P.O.D., passando pela drag de rosto cubista e codinome Marilyn Manson) acabaram rendendo suas homenagens aos ídolos góticos, seja na repetição de sonoridades ou declarações em entrevistas. Por sua vez, o pequeno selo independente americano Cleópatra, especializado em gótico e industrial, manteve viva a chama dos veteranos, lançando seguidamente álbuns-tributos, regravações de hits, registros ao vivo ou mesmo álbuns de carreira.

O século virou, Ozzy Osbourne passou de príncipe das trevas a pai bonachão de sitcom e os morcegos britânicos sentiram que era hora de voltarem a voar fora das cavernas. É o que os alemãs chamam de zeitgeist (algo como “espírito do tempo”). Aos poucos, voltam a gravar novos discos e fazer turnês por vários continentes, incluindo passagens pelo Brasil.

Saiba o que os veteranos ícones do mundo gótico andam fazendo atualmente. E prepare-se para (voltar a) ouvir falar (muito) de Sisters Of Mercy, The Mission, Siouxsie & The Banshees, Killing Joke, Gene Loves Jezebel, All About Eve, Alien Sex Fiend e Cure.

Sisters Of Mercy

Voz cavernosa, soterrada sobre camadas de teclados e guitarras, batida tribal (muitas vezes eletrônica), versos soturnos. Andrew Eldricht, o homem por trás do mito Sisters Of Mercy, é a maior representação dos sons góticos exportados pela Grã-Bretanha nos anos 80.

First And Last And Always (1985), Floodland (1987) e Vision Thing (1990) são os álbuns clássicos da banda, que teve as atividade suspensas nos meados dos anos 90 devido a uma briga judicial entre Eldricht e a gravadora Warner, por causa dos futuros lançamentos. Desde então, há reuniões somente para shows e turnês esporádicas. A última se deu por alguns países europeus no verão do Velho Continente em 2002. Atualmente acompanham Eldricht os velhos integrantes Doktor Avalanche (na verdade, uma máquina onde estão pré-gravados teclados, baixos e batidas) e Adam Pearson (guitarra/baixo), mais Chris Sheehan (guitarra) e Simon Denbigh (responsável pelo manuseio das programações). Há muitas novas composições já gravadas, porém nenhum sinal de novo disco.

Mission

Em 1986, o guitarrista Wayne Hussey, que já havia tocado no Dead Or Alive, resolveu sair do Sisters Of Mercy para fazer músicas menos cavernosas e virar vocalista. Levou junto o baixista Craig Adams e formou o Sisterhood. Impedido pelo ex-chefe Eldricht de usar o nome, acabou rebatizando a banda como Mission. Logo no álbum de estréia, God?s Own Medicine, a mistura de psicodelismo, tonalidades sombrias, referências visuais medievais e melodias pegajosas fez decolar a banda com hits como “Severina”, “Wasteland” e “Deliverance”. Dois anos depois, produzido pelo ex-Led Zeppelin John Paul Jones, o disco Children reforçou as influências do hard rock seventie que viria a predominar no terceiro trabalho, Carved In Sand (no qual foi gravada a bela balada “Butterfly On A Wheel”). Os hits, no entanto, ficaram escassos, os álbuns posteriores não tiveram a mesma repercussão de antes e Hussey passou a trabalhar sozinho a partir de 1996. Em 1999, chamou Adams de volta, reformou a banda e relançou o Mission ao regravar os maiores hits da carreira no álbum Ressurrection. No ano seguinte, o quarteto excursionou pelo Brasil, fato que voltaria a se repetir em abril de 2002. Neste mesmo ano, um novo álbum de inéditas saiu por aqui (pela FNM/Universal) e nos Estados Unidos. O disco chama-se Aura e traz um pouco das várias sonoridades do passado.

Siouxsie & The Banshees

Nos idos de 1977, Siouxsie Sioux era uma jovem punkete de cabelos negros espetados e pesada maquiagem nos olhos. Andava para cima e para baixo com o Sex Pistols e foi o pivô da grande confusão causada por Joãozinho e seus Podres no dia em que eles escandalizaram a terra da Rainha ao falar ao vivo os primeiros palavrões da história da tevê britânica. Na companhia do namorado (e futuro marido), o baterista Bugie, e o baixista Steve Severin, ela comandava o Siouxsie & The Banshees. Começaram punk, passaram pela new wave e a cold wave, mas se encontrarm mesmo no meio da turma gótica, fase na qual gravaram ininterruptamente uma série de grandes discos (Kaleidoscope, Juju, Kiss In The Dream House, Hayena, Tinderbox, Through The Looking Glass e Peep Show, entre 1980 e 1988). Já sem gás para continuar e sem nunca ter acertado com um guitarrista fixo em quase vinte anos de carreira, o grupo resolveu parar em 1995, logo depois de sua segunda passagem pela cidade de São Paulo. Siouxsie e Budgie passaram a gravar com maior freqüência sob o nome Creatures (projeto paralelo criado em 1981, mais voltado para arranjos percussivos e nuances de world music). Depois de muita insistência dos fãs, os Banshees se reagruparam em 2001 para uma pequena série de shows comemorativos nos Estados Unidos, repetindo o feito em abril deste ano. Espera-se que destas novas reuniões com Severin tenham surgido novas composições e que elas venham logo à luz do dia. Por enquanto, nenhuma declaração oficial.

Sexta-feira tem mais notícias sobre os góticos.

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