Um fato pitoresco marca a relação de Jackson do Pandeiro (José Gomes Filho, 1919-1982) com sua cidade natal. O ritmista, cantor e compositor, que na última segunda-feira completaria 90 anos, deixou Alagoa Grande, no interior da Paraíba, aos 10 anos, a pé, e só retornou no final do ano passado, via Sedex, quando seus restos mortais – que estavam enterrados no Cemitério do Caju, no Rio de Janeiro – foram transferidos para lá.

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Vinte e seis anos após sua morte, seu corpo chegou a Alagoa Grande em cima da hora da inauguração do Memorial Jackson do Pandeiro, ocorrida em 19 de novembro de 2008 (por isso, a urgência do Sedex). Pode-se dizer que esse museu que o homenageia abriga um acervo praticamente integral de sua obra.

O trabalho de resgate do legado do ‘Rei do Ritmo’ teve início em 1993, quando o jornalista e autor da biografia “Jackson do Pandeiro – O Rei do Ritmo” (Editora 34, 2001), Fernando Moura, resolveu compilar documentos, fotografias, discos e gravações de Jackson.

Dezesseis anos depois, são mais de 500 fotos, 417 músicas digitalizadas (duas delas descobertas em março deste ano), 120 discos, incluindo regravações, os clássicos chapéus, camisas e instrumentos como tamborim, reco-reco, um violão autografado pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek, e apenas um pandeiro.

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“Quando Jackson morreu, ele tinha 150 pandeiros. Lamentavelmente, eles sumiram, foram furtados. Mas a família conseguiu guardar pelo menos um, que hoje é uma raridade”, diz o biógrafo.

Como Jackson do Pandeiro não teve filhos, os únicos parentes que ainda têm alguma ligação com sua obra são os sobrinhos José Gomes Sobrinho, percussionista que acompanha Zé Ramalho, e Geralda Gomes.

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À parte os familiares, grandes contribuições são recebidas de doadores. Porém, infelizmente nem todos pensam apenas em preservar o patrimônio cultural do País, exigindo dinheiro em troca de raridades escondidas do Rei do Ritmo.

“Recentemente encontrei um sujeito que tem 11 LPs de Jackson inexistentes em nosso museu. Mas ele pediu R$ 200 por disco. Já solicitei verba para a prefeitura para ver se conseguimos levar esses álbuns para o memorial.

É uma obra em construção, mas grande parte já foi recuperada”, diz Severino Antônio, conhecido como Bibiu de Jatobá, secretário de Cultura de Alagoa Grande e administrador do museu.

Jackson, que fez grande sucesso nos anos 1950, a partir de 1953, quando morava no Recife e lançou o 78 rpm com Forró em Limoeiro e Sebastiana, caiu no ostracismo nas décadas seguintes, voltando a fazer sucesso nos últimos anos de vida, alavancado por Pixinguinha.

O compositor recebeu diversas homenagens, como tributos e apresentações no Sesc de São Paulo. Na segunda-feira, mais um tributo foi prestado a Jackson, com membros da Assembleia Legislativa da Paraíba se dirigindo de João Pessoa para Alagoa Grande.

Em 2010, será lançado um livro com enfoque no repertório de mais de 400 canções. Em março, o Sesc Santo André deve receber uma exposição sobre o Rei do Ritmo.