Homem maduro procura novas experiências

Cada geração tem seu jeito de paquerar. A juventude de hoje usa e abusa dos aplicativos no celular para encontrar seu ‘crush’, embora os adultos já fizessem isso muito antes, nos antigos classificados. Mas, para o dramaturgo e diretor Antonio Duran, a televisão foi a principal mídia que ajudou a moldar o comportamento da geração nascida entre os anos 1960 e 1970. “Foram crianças e adolescentes que experimentaram os primeiros anos da televisão no Brasil”, recorda ele.

Nessa quinta, 21, o Teatro da Vertigem estreou o espetáculo Estudo Sobre o Masculino: Primeiro Movimento. A montagem pretende refletir qual o perfil social e emocional de quatro homens, héteros e de meia-idade, nascidos no século passado. A cena que abre o espetáculo retoma a imagem do homem ideal: másculo, bonito, viril e provedor, nas primeiras propagandas da época. “Além do impulso para o consumo, esses comerciais indicavam como o brasileiro tinha que agir no trabalho, com a família e com as mulheres”, conta o ator Fernando Pernambuco. Ele lembra que mais tarde percebeu quantas cenas machistas eram veiculadas. “Havia a imagem desse homem perfeito e que nós precisávamos seguir essa trilha.”

Pernambuco é o único ator do elenco que é casado. Os colegas de palco Douglas Simon, Fernando Oliveira e Ricardo Socalschi vêm para trazer reflexões sobre o rompimento de relações e da convivência com uma nova parceira: a solidão. “Eu saio com as pessoas com as quais trabalho, se eu quiser conhecer gente nova, para onde devo ir? Para aquelas baladas de jovens?”, questiona Socalschi.

Ele ressalta que, com o passar dos anos, o ritmo de vida e vigor do corpo ficam lado a lado. “A energia sexual que diminui atinge a nossa autoimagem. E o problema está em não questionar a validade desse ideal”, explica. Diante de tantas transformações, o ator defende que as mulheres souberam lidar melhor com elas. “A invenção da pílula anticoncepcional naquela época deu mais segurança para elas, além dos movimentos feministas que tornaram as mulheres mais arrojadas. E nós ficamos parados por aí”, diz.

Para Pernambuco, o homem de meia-idade chegou a um ponto em que precisa rever suas crenças e seus valores. “Naquele época, a gente vivia, nada era seriamente discutido. Hoje, é preciso resolver diversos preconceitos e o machismo.”

Se no palco os atores estão despidos fisicamente, a primeira tarefa de Duran foi mergulhar em suas intimidades. Ele explica que realizou um procedimento inspirado em técnicas de psicoterapia nas quais o ator se sentava em uma cadeira e a equipe fazia uma séria de perguntas, diretas e sem julgamentos. “Surgiram depoimentos de relacionamentos infelizes, solidão e insegurança.”

Para ele, cada relato trazido pelos atores pretende dar conta apenas de suas realidades. “Se houvesse um ator negro no elenco, ou gay, seria um outro espetáculo”, ressalta também. “As relações com o corpo passam, essencialmente, pelo modo como esses homens se enxergam”, acrescenta.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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