Os limites da relação conjugal entram em debate em Holher Mumem. Protagonizado por João Paulo Lorenzon e Arieta Corrêa, o espetáculo, em cartaz no Sesc Consolação, encontra seu título na mistura dos vocábulos homem e mulher. Pretende questionar a possibilidade de os dois se fundirem em um só. Analisa a potência do desejo: que pode significar ruína ou redenção, bálsamo ou agonia, construção ou desconstrução.

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“É uma tentativa de, a partir desse encontro com o outro, entender a própria existência”, comenta Lorenzon, que além de atuar na peça, responde pela dramaturgia e direção. “Como se encontrar o outro desse um sentido para o que não tem sentido, para essa vida que começa e acaba sem explicação.”

Amor e seus desdobramentos orientam o trabalho do ator há algum tempo. Apareceu nos títulos De Verdade, em que adaptou o romance homônimo de Sándor Márai. Voltou a guiá-lo em Água, no qual se entregou ao tema a partir de uma mescla de textos de escritores, como Federico García Lorca, William Blake e Vinicius de Moraes.

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Agora, porém, ele acredita estar observando o sentimento amoroso por outro viés. “Aqui, o ‘não’ entra com mais força do que o ‘sim’. O erotismo é o lugar onde as pulsões de vida e morte se encontram”, diz ele, que foi indicado para o Prêmio Shell de melhor ator em 2012, por sua atuação em Eu Vi o Sol Brilhar em Toda a Sua Glória.

Influenciado pelo pensamento do filósofo francês Georges Bataille – talvez o maior teórico do erotismo – e pelo filme Império dos Sentidos (1976), o polêmico longa de Nagisa Oshima, o ator delineou uma trama regida pela ambivalência: ódio e amor, aquilo que pode atravessar o indivíduo, ainda que não mais esteja sob seu controle. “Quando me alimento do outro, alcanço lugares que a minha singularidade não me permitiria”, analisa Lorenzon. “Mas essa fusão pode significar também uma doença, uma loucura.”

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Para dar corpo a esses questionamentos, a montagem elege os personagens Ele e Ela. Sem identidades definidas, esses seres aparecem descolados de um tempo e um espaço específicos. Podem viver em qualquer contexto porque não estão a representar um decalque da realidade. Têm a função de arquétipos e assim se colocam no palco.

HOLHER MUMEM – Sesc Consolação – Espaço Beta. Rua Dr. Vila Nova, 245, tel. 3234-3000. 2ª e 3ª, às 20h. R$ 10. Até 15/10.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.