Se Elis Regina estivesse viva, hoje o Brasil estaria em festa. A cantora gaúcha, que morreu prematuramente aos 36, completaria hoje 60 anos de idade. Mesmo 23 anos após a sua morte, Elis continua agradando até aqueles que nunca tiveram oportunidade de vê-la cantando ao vivo.
Uma das evidências disso está no sucesso de crítica e público do DVD Ensaio, o primeiro da cantora. Lançado pela Trama em novembro, já chegou à marca de 62 mil cópias vendidas. A versão remixada do clássico Elis & Tom (1974), em CD e DVD-áudio, vendeu 46 mil cópias, mesmo com o preço salgado da edição dupla.
Miguel Esposito é um dos poucos curitibanos que teve a oportunidade de trabalhar com Elis Regina. No Teatro Guaíra desde os 17 anos, hoje com 61 anos e prestes a se aposentar, nos anos 70s e 80s ele fazia parte do departamento técnico e trabalhava como contra-regra. Foi assim que ele conheceu a cantora. ?Ela se apresentou várias vezes no Guaíra e, em todas as vezes, eu trabalhei com ela nos shows?, conta. ?Ela era uma boa pessoa, muito simpática, todo mundo gostava dela?.
As datas, Esposito afirma que já não lembra mais. ?Para ser preciso, teria que consultar os meus diários. Mas são 600 volumes, mais ou menos, iria demorar muito?, justifica. Mas o período certo não importa. O que vale é a preciosidade que Esposito tem guardada em casa: o maiô de cena usado por Elis no último show que ela fez em Curitiba. ?Quando terminou o espetáculo, ela me deu o maiô de cena e eu guardei. Logo depois, ela morreu?, lembra.
Esposito conta que desde então tenta falar com os filhos da cantora para entregar a peça, mas nunca conseguiu um retorno. ?Tem um colecionador de Nova York que quer este maiô. Mas eu não posso enviar para ele, vender ou qualquer outra coisa porque, antes de tudo, a peça pertence à família dela?, afirma.
Quando relembra as apresentações da cantora, Esposito diz que não havia quem não se emocionasse com a presença de palco da gaúcha. ?Ela era baixinha mas tornava-se grande na boca do palco?, afirma. Quando a filha de Elis Regina, Maria Rita, veio se apresentar em Curitiba, o experiente contra-regra teve oportunidade de ver parte do show. Meio sem jeito, quando questionado sobre quem ele preferia ver cantando, Esposito não hesita: ?A mãe era bem melhor?.
Vida
Elis Regina nasceu em Porto Alegre em 17 de março de 1945 e ainda criança descobriu o seu talento para a música. Em 1964, com três discos gravados, a cantora se mudou para o Rio de Janeiro e no ano seguinte ganhou projeção nacional ao vencer o I Festival de Música Popular Brasileira da Tv Excelsior, de São Paulo, cantando Arrastão, composição de Edu Lobo e Vinícius de Moraes. Depois disso, o sucesso de Elis não parou de crescer.
A cantora teve três filhos: João Marcello, do primeiro casamento com Ronaldo Bôscoli; e Maria Rita e Pedro, do segundo casamento, com o compositor e pianista César Camargo Mariano.
O casamento com Mariano durou até 1980 e em 81 Elis noivou com o advogado Samuel MacDowell. Em 19 de janeiro de 1981, Elis foi encontrada, inerte, em seu quarto, depois de uma noite em que tinha discutido com o noivo. De manhã, por volta das 9h, ainda falou com ele por telefone.
O noivo percebeu a voz enrolada e foi até a casa da cantora. Elis foi levada ao hospital mas chegou morta. A notícia chocou o País, ainda mais quando se soube da causa da morte: overdose de álcool e cocaína. Até então, o problema da cantora com as drogas era desconhecido do grande público.
A comoção causada pelo velório de Elis só é comparado ao de Carmem Miranda. Uma semana depois do enterro, no estádio do Murumbi, cem mil pessoas cantaram O bêbado e a equilibrista em sua homenagem.
Muitas datas a comemorar
Se estivesse viva, Elis Regina teria muitas datas redondas a comemorar em 2005. Além dos 60 anos dela e os 30 do segundo filho, Pedro, há 40 anos, no dia 6 de abril, ela vencia o I Festival de Música Popular Brasileira realizado pela TV Excelsior, cantando Arrastão, de Edu Lobo e Vinícius de Moraes. No dia 19 de maio estreou na TV Record, ao lado de Jair Rodrigues, o programa semanal O Fino da Bossa, uma referência da melhor música brasileira da época. Em 1965, Elis também lançou seus primeiros discos pela Philips – um solo, um com Jair e outro com o Zimbo Trio -, deixando definitivamente para trás a imagem de adolescente.
Dez anos depois provocaria rebuliço no conceito de produção de show musical com o histórico Falso Brilhante, dirigido por Miriam Muniz e com cenários e figurinos de Naum Alves de Souza. O show estreou no dia 17 de dezembro de 1975 no Teatro Bandeirantes e ali permaneceu durante 14 meses, com uma média de 1.500 pessoas por dia. Inesquecível.
