A fisionomia do homem que dividiu a História em antes e depois dele é um dos assuntos mais polêmicos da ciência e da religião. Todos querem saber como era o rosto de Jesus. O fato é que a única coisa que se pode afirmar é que o filho de Maria não era um loiro de lindos olhos azuis e cabelos lisos. Por ter nascido na cidade de Belém, na Palestina, Jesus, muito provavelmente, era moreno, de feições rudes e cabelos escuros, como os muçulmanos que aparecem na TV. As chances de Cristo ter usado barba e cabelo comprido também são grandes, já que isso faz parte dos costumes dos homens palestinos – até hoje. Mas nada disso é novidade. O que há de novo sobre o assunto é que o designer americano Ray Downing usou o Santo Sudário para, a partir do célebre tecido, recriar em 3D o rosto ali impresso.
Com isso, Downing tem alardeado aos quatro cantos ter feito surgir a face real de Cristo. E em terceira dimensão. Religiosos e fiéis do mundo inteiro estão empolgados com a descoberta. O problema é que ela é baseada num argumento que a ciência já derrubou: o de que o rosto impresso no Sudário pertencia ao Filho de Deus. Em 1988, o tecido foi submetido ao teste de Carbono 14, considerado pela Comunidade Científica Internacional o mais confiável e preciso exame de datação do mundo. E o teste constatou que o Sudário foi confeccionado entre 1260 e 1390, ou seja, mais de 12 séculos após o nascimento de Jesus. Mas Ray Downing despreza a ciência e usou o tecido em seu trabalho de reconstrução do rosto ali impresso para dizer que fez surgir a face de Cristo.
Passo a passo
É esse o tema do programa “A Verdadeira Face de Jesus”, que o canal por assinatura History Channel vai exibir na quinta-feira, às 21h, e que mostrará todo o processo realizado pela equipe de Downing. Segundo o artista gráfico, sua equipe conseguiu revelar características novas e surpreendentes sobre o que ele acredita ser o rosto de Jesus. “O sudário é o registro da crucificação. É uma recordação da Paixão de Cristo. Na mortalha, é possível ver marcas de sangue, as feridas nas costas e até a perfuração na mão quando ele foi pregado na cruz”, diz Downing, que não é católico praticante, mas diz acreditar em Deus. E sabe muito bem da repercussão que um assunto como esse pode gerar num mundo com mais de 2 bilhões de cristãos.
Ele conhece o resultado do exame de Carbono 14, mas preferiu desconsiderar o teste. “Para recriar o rosto de Jesus, utilizamos uma tecnologia de computação gráfica recente, que não existia há dez anos”, disse Downing. Para ele, o mais complicado foi juntar as partes do pano e a retirada de manchas, como as marcas de queimaduras, água e rasgos. Outro detalhe importante: o designer não teve acesso ao Sudário. Ele fez tudo a partir de cópias de fotografias tiradas do manto em 1931 e 1978. Caso Downing ou qualquer outra pessoa queira ver o Sudário de perto (sem poder tocá-lo), o manto está exposto desde o último dia 10, na catedral de São João Batista de Turim, na Itália, onde ficará até 23 de maio. A última exposição pública da peça ocorreu há dez anos. O Vaticano estima que mais de 2 milhões de pessoas de todas as partes do planeta visitem Turim para ver o Sudário. Mas muito mais gente ao redor do mundo deve assistir ao programa do History Channel, contando como Downing fez surgir uma imagem em 3D a partir de uma peça que a ciência já comprovou ser um pedaço de pano sem qualquer ligação real com Jesus.
A Verdadeira Face de Jesus. Exibição na quinta-feira, dia 29, às 21h. No canal por assinatura The History Channel.