Manoel Carlos não desiste da idéia de procurar pelas esquinas do Leblon histórias da vida real. De gente que perde o emprego, fica doente ou nunca encontra um grande amor. Assim como fez em Por Amor, Laços de Família e Mulheres Apaixonadas, em Páginas da Vida Maneco usa e abusa de histórias reais. Talvez essa repetição constante de temas e personagens seja responsável pela audiência apenas correta da atual trama das oito da Globo, que tem registrado uma média de 49 pontos, com 71% de participação. No entanto, apesar do estilo realista de sempre, Maneco consegue, na maioria dos capítulos, tornar a novela prazerosa de se ver. Seja pela abordagem de temas familiares, como o casamento e a traição, ou pela análise de questões polêmicas como a Síndrome de Down, o alcoolismo e a aids.
Outro atrativo da trama é a vilã Marta, vivida por Lilia Cabral. Através dela, Maneco tem conseguido espantar a chatice da heroína da trama, interpretada por Regina Duarte. Com trejeitos exagerados, a atriz, desta vez vivendo uma obstetra que adota uma criança portadora da Síndrome de Down, está completamente fora do tom. Maneco já criou Helenas bem mais humanizadas e interessantes que a atual Helena de Regina Duarte. Ela soa certinha e falsa demais. Sempre disposta a ajudar todo o mundo, a personagem não passa credibilidade alguma como a boazinha da história.
Por outro lado, Lilia Cabral está brilhante na pele da preconceituosa e amarga empresária Marta, casada com Alex, personagem de Marcos Caruso. A omissão e a incapacidade de Alex servem de trampolim para as maldades da empresária. Outro trunfo da trama é a dupla Bira, personagem de Eduardo Lago, e Marina, interpretada por Marjorie Estiano. Mesmo que os dois pareçam reviver o drama dos personagens Orestes e Sandrinha, pai e filha em Por Amor, também de Maneco, Eduardo e Marjorie têm conseguido passar veracidade nas cenas em que Marina dá banho no pai alcoólatra, depois dos seus incontáveis porres ou quando o acompanha nas sessões dos Alcoólicos Anônimos.
O que parece sem sentido ou uma baita economia de cenário na trama de Maneco é o fato de quase todos os filhos de Tide e Lalinha, personagens de Tarcísio Meira e Glória Menezes, morarem sob o mesmo teto. É incompreensível um marmanjo de 30 anos rico como o Jorge, personagem de Thiago Lacerda, continuar vivendo debaixo da asa do pai. Contudo, Maneco tem conseguido tornar o casarão do patriarca mais atraente através de pequenos ?barracos?, como no dia em que Carmem, vivida por Natália do Vale, deu uma surra em Sandra, personagem de Daniele Winits.
Maneco só parece ter se esquecido das polêmicas que prometeu abordar com mais ênfase no início da trama, como a Síndrome de Down e a possível bissexualidade do militar Silvio, interpretado por Edson Celulari. O suposto envolvimento do militar com outro homem, no entanto, causou tanta revolta por parte das Forças Armadas que Maneco teve de mudar o futuro do personagem. Polêmicas e revoltas à parte, a trama das oito da Globo só tem confirmado que, apesar das críticas negativas, Maneco continua ?expert? na arte de retratar a vida real.
