Histórias de pescador e de amor estão em Tiradentes

Embora tenham sido exibidos apenas dois dos sete filmes que compõem a seleção da mostra competitiva Aurora, um cheiro de crise se alastra no ar. Como faltam pesos pesados da seleção – como Adirley Queirós, que já venceu a mostra -, pode ser que o quadro mude, mas os filmes apontam na mesma direção. Muito ‘sui generis’, aliás, o título de outra seção aqui em Tiradentes, a dos filmes inclassificáveis.

O primeiro longa da Aurora, A Vizinhança do Tigre, de Affonso Uchoa, listado como documentário no catálogo, é uma ficção, diz o diretor. O segundo, O Bagre Africano de Ataleia, de Aline X e Gustavo Jardim, é outro documentário ficcional, que investiga mitos no inconsciente coletivo.

Existe o homem bagre? Para o espectador que assiste ao filme, ele não só existe, pois o vemos, como se assemelha a um dos piratas do Caribe da fantasia com Johnny Depp. Para os diretores, mais que o processo de feitura do filme, o que interessa talvez seja o mergulho no imaginário mineiro por meio da caçada que compõe a narrativa. O filme decola totalmente ficcional e vira uma investigação no rumo do ‘encantado’, mas os outros fazeres do processo audiovisual estão se revelando cada vez mais árduos, como se qualquer tentativa em contrário pudesse ser rotulada de ‘concessão’, aqui em Tiradentes. Os filmes da seleção estão virando um gênero específico, é isso.

Enquanto isso, os filmes da mostra Sui Generis surpreendem. É preciso fazer uma ressalva. O repórter, erroneamente, confundiu o diretor Cristiano Burlan com o ator Henrique Zanoni. Quem chora em Amador é o ator, representando o diretor do filme dentro do filme. Seu choro é metafórico, não é a mesma coisa que o choro do diretor Cícero Filho, captado pela câmera de Murilo Salles em Passarinho Lá de Nova Iorque. O fato não altera a admiração suscitada por Amador, mas é bom não confundir.

Ricardo Miranda também trouxe à Sui Generis Paixão e Virtude, segunda parte da trilogia. Como o primeiro filme, Djalioh é uma adaptação de Flaubert. Na tela, o fogo arde numa lareira e os personagens falam da paixão, mas o tom é gélido. Toda a composição do filme é pictural e teatral, como se fossem quadros. Desde a premiação de Marat Descartes, Tiradentes, em 2014, tem celebrado a ligação entre teatro e cinema. O antinaturalismo de Paixão e Virtude era um risco que Miranda e seu elenco vencem com garbo.

Para concluir, o secretário do Audiovisual veio debater políticas públicas. Algumas frases de Mário Borgneth: “Se somarmos o fundo setorial com a Secretaria do Audiovisual, serão R$ 70 milhões investidos em cadeias regionais” (sobre investimentos); “O circuito exibidor brasileiro tem 2.500 salas, os circuitos alternativos como o Cine Mais, 3.000” (sobre a formação de plateias). E ele defendeu, em termos de memória, a ‘digitalização brutal’ do acervo da Cinemateca Brasileira e a ampliação da Programadora Brasil. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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