É mais um daqueles filmes de que você pode desfrutar moderadamente, mas do qual deve desconfiar como realidade nua e crua. Não se fie muito na informação – baseado numa história real. O que existe de real em “Caça aos Gângsteres” vira pura ficção no conceito do diretor Ruben Fleischer. Para sua informação, ele já fez de “Zumbilândia” uma extravagância cômica em que Woody Harrelson liderava um bando de garotos na arte de dizimar os zumbis que cruzavam seu caminho. Agora, Fleischer conta a história de um bando de intocáveis que enfrenta o gângster Sean Penn. Ele tenta expandir sua área de poder e influência de Chicago até Los Angeles.
Mickey Cohen existiu de fato e foi enviado a Los Angeles para assessorar o lendário Bugsy Siegel, quando a Kosher Mafia, a máfia judaica, começou a se expandir, inclusive com ramificações em Hollywood. “Caça aos Gângsteres” baseia-se no livro de não ficção do repórter Paul Lieberman, do “Los Angeles Times”. A obra foi publicada em 2012, com base numa série de oito reportagens que Lieberman publicou no jornal sobre a criminalidade dos anos 1940 e 50. As datas retratadas no filme não batem com a realidade, mas isso parece o de menos para o diretor Fleischer.
Assim como “Zumbilândia” é uma fantasia sobre códigos de um gênero, “Caça aos Gângsteres” também está mais interessado em estilo do que na discussão ética que impulsiona Josh Brolin, Ryan Gosling e seus amigos a enfrentar o brutal Cohen. Sean Penn pode até se ter baseado em elementos da vida do personagem que interpreta, mas Cohen é tão real quanto o Al Capone de Robert De Niro em “Os Intocáveis”, de Brian De Palma, um dos modelos assumidos do diretor Fleischer. O grupo de idealistas, a corrupção generalizada da polícia – misturando épocas, Ruben Fleischer inspira-se tanto em “Os Intocáveis” quanto em “Los Angeles – Cidade Proibida”, que Curtis Hanson adaptou de James Ellroy.
Assim como Capone/De Niro matava seu comandado a pauladas para que servisse de exemplo, Cohen, de cara, dá uma amostra de sua selvageria, até como possibilidade de intimidação. A velha cena do western, do sujeito amarrado a cavalos que disparam em diferentes direções, ganha aqui atualização, e o sujeito é amarrado a dois carros que o despedaçam ao partir em direções opostas. Josh Brolin cria um personagem obviamente desenhado a partir do Elliott Ness (Kevin Costner) de “Os Intocáveis”, Ryan Gosling tem talvez os diálogos mais interessantes, no sentido de que tem acuidade para refletir sobre o que se passa. Nada demais – o que interessa é o erotismo masculino (apesar da contribuição de Emma Stone), todos esses astros que ganham papéis maiores que a vida.
“Caça aos Gângsteres” tem muitas cenas apreciáveis. O problema é que elas não juntam. É mais um filme em que as partes são melhores que o todo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
CAÇA AOS GÂNGSTERES
Título original: Gangster Squad. Direção: Ruben Fleischer. Gênero: Drama (EUA/2011, 114 min.). Classificação: 16 anos.