Muitas décadas antes de se tornar o evento de cinema mais badalado do mundo, a premiação do Oscar teve um início tímido, mas promissor. A primeira cerimônia, idealizada para celebrar a produção cinematográfica Hollywoodiana e para elevar o cinema feito pela indústria americana à condição de arte, aconteceu em 16 de maio de 1929, nos salões do Hollywood Roosevelt Hotel, em Los Angeles.
A festa teve uma dimensão nada comparável à 91º cerimônia do Oscar no Dolby Theatre, que acontecerá nesse domingo (24), onde 3.332 convidados serão recebidos para o evento que custou 44 milhões de dólares. A premiação de 1929 foi realizada durante um jantar de gala que reuniu 270 convidados. Entre eles estavam grandes astros e estrelas das telas, produtores, roteiristas, cineastas, donos de estúdios e outros interessados que desembolsaram cinco dólares, valor pelo qual foram vendidos os ingressos do evento e que hoje equivaleria à cerca de $75,00 dólares.
O primeiro prêmio Oscar foi apresentado por Douglas Fairbanks, um dos maiores nomes da indústria cinematográfica dos anos 1920, e durou pouco mais de 15 minutos, tempo que levou a entrega das estatuetas das 12 categorias concorrentes. A entrega do prêmio transcorreu sem qualquer suspense, uma vez que os ganhadores já haviam sido anunciados três meses antes. O evento não foi transmitido pelo rádio, nem pela televisão. As notícias sobre o evento ficaram à cargo das edições dos jornais do dia seguinte.
Entre os vencedores das maiores categorias da noite estão o filme de guerra Asas (1928), que recebeu o Oscar de Melhor Filme e a produção Aurora (1927) de Friedrich Murnau, que ficou com o Oscar de Melhor Qualidade Artística e Produção. Os cobiçados Oscars de Melhor Atriz e Melhor Ator ficaram com Janet Gaynor e Emil Jannings. Tanto prêmios, quanto vencedores, guardam curiosas histórias.
Atriz fazendeira
Janet Gaynor, a primeira agraciada pela Academia de Academia de Artes e Ciências Cinematográficas com o Oscar de Melhor Atriz, recebeu sua estatueta com apenas 22 anos, por suas interpretações em Sétimo Céu (1927), Aurora (1927)e O Anjo das Ruas (1928). Com suas personagens doces e angelicais alcançou, a jovem atriz alcançou o posto de namoradinha da América e fez uma transição de sucesso do cinema mudo para o falado. Em 1931 e 1932, se transformou em campeã de bilheterias e se tornou uma das estrelas mais bem pagas de Hollywood.
Cansada de viver o mesmo papel nas telas, Gaynor encarou a protagonista de Nasce Uma Estrela, em 1937. A história cativou o público, tanto que até hoje já foi regravado quatro vezes e sua última versão disputa sete categorias no Oscar deste ano. Vicki Lester, a garota aspirante ao estrelato foi o último grande papel de Gaynor antes de abandonar o cinema por 20 anos e embarcar para uma longa temporada no Brasil, onde, em sua fazenda em Anápolis, Goiás, viveu anos tranquilos ao lado do marido, o famoso figurinista, Gilbert Adrian.
Ator canino
Não foi fácil eleger o primeiro vencedor do Oscar de Melhor Ator. Ao menos, é isso que conta Susan Orlean, colaboradora da revista New Yorker e autora da biografia sobre Rin Tin Tin. Orlean conta que a primeira votação para a categoria teve um polêmico vencedor, o cão Rin Tin Tin.
Resgatado de um canil alemão desativado na França no final da Primeira Guerra, o cãozinho foi levado para os Estados Unidos por um cabo do exército. Na América, seu dono o treinou para realizar truques que encantaram os produtores de cinema. Ele Fez sua estreia na telona em 1922, numa ponta no filme The Man from Hell’s River (1922), no qual representou um lobo. No ano seguinte, estrelou seu próprio longa, Where the North Begins (1923) estourou nas bilheterias. A Warner Bros. produziu um total de 16 fitas com o astro de quatro patas até 1929, ano da primeira entrega do Oscar. O que fez de Rin Tin Tin um dos contratados mais produtivos e rentáveis do estúdio.
O relato conta que os organizadores da premiação ignoraram o primeiro resultado, tomando-o como uma brincadeira, e realizaram uma segunda eleição na qual apenas humanos poderiam se qualificavam. O ator alemão Emil Jannings recebeu a maioria do votos e ficou com o Oscar de Melhor Ator de 1929. Mas, mesmo a segunda e oficial votação do prêmio não livrou a Academia da polêmica, uma vez que Jannings na década de 1930 se revelou um dos maiores apoiadores do regime nazista instaurado na Alemanha em 1933. O ganhador do primeiro Oscar de Melhor Ator estrelou inúmeras produções para o Terceiro Reich e chegou a receber do Ministro da Propaganda, Joseph Goebbels, o título de Staatsschauspieler (Ator do Estado, em livre tradução). A infame história aquece uma velha piada em Hollywood, que diz que a indústria preteriu um pastor alemão e acabou premiando um poodle nazista.
Em 2009, Jannings foi retratado por Hilmar Eichhorn na obra Bastardos Inglórios de Quentin Tarantino. Na parte final do filme, ele aparece conversando com Goebbels e exibindo o anel que recebeu como honraria aos seus serviços e depois morre queimado junto com Adolf Hitler, Hermann Göring e outros os membros da alta cúpula nazista no catártico incêndio provocado pela heroína, Shosanna Dreyfus, no cinema.