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História de uma época em que o pior pode virar objeto de culto

Uma acusação de assédio pode ter tirado James Franco do Oscar, mas não o priva da autoria de um filme pelo menos interessante. Dirige e protagoniza Artista do Desastre, recriação da história de Tommy Wiseau, para muitos criador do “pior filme de todos os tempos”.

Quem viu Artista do Desastre pode atestar que o personagem parece over demais. Os longos cabelos, o sotaque indecifrável, o ar charlatão e egocêntrico. Quando foi receber seu Globo de Ouro, Franco levou o próprio Wiseau ao palco. E então pôde-se comprovar que a caracterização do filme não era exagerada. Parecia, ao contrário, muito fiel ao modelo.

Na história, Greg Sestero (Dave Franco) e Tommy Wiseau (James Franco) se conhecem num curso de atuação. Ambos desejam entrar para o clube fechado de Hollywood. E para lá partem, no carro de Tommy. Como este não consegue financiamento, resolve bancar o próprio projeto, The Room, sem ter as qualificações básicas para dirigir um longa-metragem.

Tudo, em Wiseau, é misterioso, a começar pela fonte do financiamento do filme. De onde ele tira o dinheiro? Não se sabe. Qual a origem do seu sotaque particular? Ele diz que é proveniente de New Orleans, mas a versão não cola. Talvez seja estrangeiro. Enfim, Wiseau, com sua loucura e sua grana, consegue mobilizar profissionais de Hollywood e seu sonho – filme – segue adiante. Wiseau é produtor, roteirista, diretor e ator principal em The Room.

Artista do Desastre é a história desse delírio. O curioso do caso é ter The Room se tornado uma espécie de cult, sendo programado em sessões da meia-noite para delírio da galera que busca o excêntrico. Os absurdos da filmagem, a artificialidade dos diálogos, o desempenho over do protagonista, o enredo improvável e mal construído transformam o drama em comédia involuntária. Por ser ruim demais, torna-se bom. Ou, pelo menos, transforma-se em objeto de culto. Como antes já acontecera com Ed Wood e seu famoso Plan 9 from Outer Space. Ed Wood foi homenageado por um grande artista do fantástico, Tim Burton, assim como Tommy Wiseau agora é lembrado por James Franco.

Esse tipo de homenagem se faz em caminho perigoso. Ainda mais para James Franco, tipo pouco benquisto em certas áreas da indústria por trabalhar demais, aparecer muito, projetar-se além do limite do bom tom. Muita gente gostaria de ver um tropeço seu e agora deve estar se regozijando com a acusação de assédio. Mas o filme, em si, é defensável e, no fundo, é isso que importa, ainda mais nesse ambiente persecutório e vingativo que anda se criando.

Franco toma por personagem um tipo tão carregado de tiques e cacoetes que transformá-lo em clichê ambulante seria muito fácil. Sem falseá-lo, o apresenta como alguém com quem se consegue ter certa empatia. Em especial em sua relação com Greg.

Franco buscou um tom próximo ao real para pintar o retrato tanto do personagem quanto de seu filme. Acompanhamos a filmagem de The Room, numa espécie de making of ficcional. No final, vemos o quanto as sequências reencenadas se parecem com as originais, quando Franco as compara, lado a lado, em split screen, a tela dividida.

Pode-se dizer que seu trabalho não coloca qualquer visão crítica sobre o personagem e muito menos sobre essa estranha paixão pós-moderna pelo trash. Mas a história em si é interessante e bem contada. Cada um conclua por si mesmo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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