Sempre correram histórias de que o conto de fadas vivido por Grace Kelly não foi tão maravilhoso assim. Histórias de fadas e princesas começam sempre com um ‘Era uma vez…’ e terminam com ‘…E viveram felizes para sempre.’ Grace Patricia Kelly era uma autêntica princesa de Hollywood. De família rica, ícone da moda, virou estrela, ganhou o Oscar – por Amar É Sofrer, de George Seaton, em 1954 – e trabalhou com grandes diretores como Henry Hathaway, John Ford, Fred Zinnemann e Alfred Hitchcock. O mestre do suspense fez dela a mais perfeita encarnação de suas ‘loiras frias’, mulheres que, sob uma aparência de gelo, escondem um temperamento ardente.
Foram três filmes com ele – Disque M para Matar, Janela Indiscreta e Ladrão de Casaca. O último foi rodado na Cote d’Azur, com Cary Grant na pele de um ladrão aposentado – o Gato – que volta à ativa para descobrir quem está roubando segundo seus velhos métodos. Grace faz a herdeira que ajuda o herói, e foi durante a filmagem que conheceu o príncipe de Mônaco, Rainier III. Casaram-se, e a mídia celebrou o que, na época, foi chamado de ‘casamento do século’. Depois, houve o de Charles com Lady Di, que recebeu a mesma definição. Grace chegou a ser chamada de ‘mais bela princesa da história’.
Tudo perfeito aos olhos do público, mas um tanto angustiante na intimidade. Grace teria sido uma grande pegadora no cinema, ficando com todos os seus galãs. Casada, mudou completamente o estilo de vida. O protocolo, a etiqueta – tudo lhe cerceava os movimentos. Ela, que sempre foi filantropa, intensificou os trabalhos humanitários após o casamento com o príncipe, até como compensação pela falta que sentia da carreira de atriz. Foi madrinha de várias instituições, entre elas a Association Mondiale des Amis de l’Enfance, uma organização internacional que criou para ajudar crianças carentes.
O filme de Olivier Dahan, Grace: A Princesa de Mônaco, que inaugura amanhã o 67.º Festival de Cannes aborda um período específico da vida de Grace, entre dezembro de 1961 e novembro de 1962, quando ela desempenhou um papel decisivo nas negociações do príncipe Rainier com o presidente da França, Charles De Gaulle, sobre o direito de Mônaco manter-se um principado. Rainier teria detestado a intervenção da mulher. Logo em seguida, sabendo quão infeliz ela estava, Hitchcock propôs-lhe a volta ao cinema, mas era em Marnie, no papel de uma frígida que rouba para se purgar da insatisfação sexual. Impossível, nem sonhar, proclamou o marido. Viveram de aparência até a morte dela, num acidente de carro, em setembro de 1982, aos 52 anos. Além da polêmica com os produtores, o diretor Olivier Dahan comprou outra briga – a família de Grace, e os filhos, repudiaram o filme e já anunciaram que não vão vê-lo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.