Ter e Não Ter (tradução de Ênio Silveira, Bertrand Brasil, 256 páginas), romance escrito por Ernest Hemingway em 1944, tem um ambiente tipicamente hemingwayano: à exceção da primeira parte, que se passa em Havana (onde ele ainda não havia morado, mas já conhecia bastante bem), as outras têm como pano de fundo ora a região de Key West, na Flórida, onde residia há oito anos, ora as poucas milhas marítimas que se estendem entre Cuba e o Sudeste americano, tantas vezes por ele percorridas em seu barco de pesca, o Pilar.
O capitão Morgan, personagem central da história, pode ser visto como um dos idealizados alter egos do autor. A fauna humana que povoa o romance – integrada por comandantes de iate de aluguel, pescadores profissionais e milionários diletantes adeptos da pesca oceânica, contrabandistas, imigrantes, clandestinos, bêbados e arruaceiros que freqüentam botequins à beira do cais, prostitutas, revolucionários cubanos (que vinham, bem antes de Fidel Castro, querendo derrubar corruptos ditadores entronizados na ilha) – também fazia parte do dia-a-dia de Hemingway em seus tempos de Key West.