O início da década de 60 foi um dos períodos mais significativos na história política brasileira. Uma época de criatividade, conscientização social e, para muitos, subversão. Uma atmosfera de liberdade estancada pelo golpe de 1964, que pôs fim ao processo de crescente mobilização popular. Com mais de 40 anos, a ditadura ainda é um período obscuro em nossa história recente, assim como seu principal instrumento de coerção e suspensão dos direitos civis, o AI – 5. Para lançar nova luz sobre o tema, Hélio Contreiras traz sua experiência como repórter da área militar em AI – 5: A OPRESSÃO NO BRASIL.
Como setorista militar para veículos como O Globo, Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde e Istoé, o jornalista arriscou a carreira e a vida para fazer suas matérias sobre os bastidores do regime. Contreiras teve que enfrentar a truculência dos militares radicais e o patrulhamento de colegas jornalistas, que, identificados com a esquerda, não admitiam a convivência profissional dele com os generais. Mas o autor continuou a recolher o material que, mais tarde, se transformaria em seu segundo livro sobre a história da ditadura – Contreiras é autor, também, de Militares – Confissões. ?AI-5 é o resultado de uma pesquisa mais elaborada, mais arriscada?, avalia o autor.
Durante o período em que cobriu a área militar como repórter, iniciado em 1977, Contreiras entrevistou várias autoridades de alta patente das Forças Armadas. A princípio, o material seria usado em reportagens, mas o endurecimento do regime fez com que ele guardasse os depoimentos, reunidos finalmente em AI – 5: A OPRESSÃO NO BRASIL. Obra de extrema importância para se entender a dinâmica do poder no Brasil contemporâneo.
Em AI – 5: A OPRESSÃO NO BRASIL, o jornalista revela como conseguiu que os militares concedessem os depoimentos, os maiores erros da oposição ao regime, a atuação dos militares radicais que culminou na publicação do AI-5, e a lição que se deve extrair do período em que o Brasil foi governado por generais. ?Uma coisa que me facilitou foi que no Brasil, mais do que na Argentina, o regime militar teve dissidentes desde o início. Não houve unidade total e absoluta. Eu procurava ver e ouvir aqueles que davam sinais evidentes de discordância?, explica Contreiras.
Hélio Contreiras foi repórter do Globo, Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde, da IstoÉ, da Manchete, onde ganhou o Prêmio da Federação Nacional dos Jornalistas e Correio Braziliense. Denunciou a tortura contra presos políticos, a distribuição de atestados de ideologia pelo Ministério da Educação, a farsa do primeiro IPM sobre o atentado do Riocentro; rompeu o silêncio do regime militar sobre a sucessão do presidente Geisel; divulgou com exclusividade, no Estado de S. Paulo e no JT, que o presidente Fernando Collor ia renunciar para escapar de processo; e denunciou o acordo Espacial de Alcântara Brasil-Estados Unidos, causando a retirada do documento assinado pelos embaixadores Anthony Harrington e Ronaldo Sardenberg da pauta da Câmara. Foi o único jornalista a obter um documento do Exército que confirmou a tortura sofrida pelo líder comunista Gregório Bezerra – e que sempre fora negada pelos militares -, em matéria publicada pela revista Carta Capital. Atualmente é o editor-responsável da newsletter Cenários, da Unesco e das Universidades das Nações Unidas e Estácio de Sá. O primeiro livro do autor foi Militares confissões – histórias secretas do Brasil.