Morreu na quarta-feira, 18, Horace Silver, aos 85 anos, pianista de jazz que foi o inventor e o símbolo do hard bop e protagonizou gravações históricas do gênero desde os anos 1950. Segundo a publicação Jazz Times, ele teve uma parada cardíaca na cidade onde vivia, New Rochelle, no Estado de Nova York.

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Ele tocou com Wayne Shorter, com Art Blakey (gravou e tocou com os Jazz Messengers entre 1953 3 1955), Coleman Hawkins, Lester Young, Joe Henderson, James Moody, Branford Marsalis e muitos outros. Seu disco Jody Grind (1966) foi influência para jazzistas do mundo todo, como Christian McBride e europeus como Stefano di Battista.

“Eu achava o trabalho de Dave Brubeck interessante até que ouvi Art Tatum, Horace Silver e Oscar Peterson. Mas, quando ouvi Horace, uma coisa ficou girando na minha cabeça até que eu finalmente definisse minha ideia do que era tocar piano”, disse outra lenda do jazz, Cecil Taylor.

Nascido Horace Ward Martin Tavares Silver, ele tinha ascendência portuguesa por parte do pai, que viera do Cabo Verde. Começou sua carreira como saxofonista em sua terra natal, Connecticut. Suas influências, então, vinham do blues, de cantores como Memphis Slim e pianistas de boogie-woogie e bebop, como Bud Powell e Thelonious Monk. Daí surgiu a ideia de misturar rhythm’n’blues com música gospel e jazz, cerne do hard Bop.

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Quando foi para Nova York, em 1951, ainda muito jovem, foi descoberto por Stan Getz. “Ele pagava meu salário, mas imediatamente pedia um empréstimo para comprar drogas. Eu sabia que nunca mais receberia aquele dinheiro novamente”, conta Silver. “Mas eu não pedia demissão. Era o grande momento da minha vida. Getz era uma pessoa maravilhosa, um músico excepcional, mas estava preso àquela porcaria.”

Sobre a criação do hard bop, ele disse, em sua autobiografia, Let’s Get to the Nitty Gritty (2006): “Eu sempre soube que, tecnicamente, nunca tocaria tão bem quanto Art Tatum, portanto sabia que era preciso fazer algo diferente, deixar minha marca. Nunca fui um pianista muito rápido, mas criei meu estilo”, disse Silver.

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Em 1952, ele participou de sua primeira gravação para a Blue Note, com quem mais de 30 álbuns na carreira. Entre suas canções mais celebradas, estão The Preacher, Doodlin’, Opus de Funk, Señor Blues, Nica’s Dream, Sister Sadie e Song for My Father.

Em 1954, no disco Bag’s Groove, gravado em Nova York, Miles Davis registrou um encontro estelar que reuniu o que ele chamou de Modern Jazz Giants: Sonny Rollins, Milt Jackson, Thelonious Monk, Percy Heath, Kenny Clarke e Horace Silver.

Ele teve contato com o Brasil nos anos 1960, quando veio ao Rio conhecer o carnaval a convite de Sérgio Mendes. Ficou impressionado com o baterista Dom Um Romão e com a cantora Flora Purim. “Amo os trabalhos de Moacir Santos, Sérgio Mendes e Tom Jobim. Não posso esquecer de falar sobre Cláudio Roditi, um excelente trompetista que participou de um dos meus discos (‘The Hardbop Gradbop’, lançado em 1996)”, disse ao Estado, em 2006.