A característica mais marcante do bandolim de Hamilton de Holanda talvez não seja o toque cristalino ou o suingue rasgado de suas inconfundíveis gravações, mas sim a flexibilidade com que o músico se adequa a diferentes situações musicais. Sua forma de improvisar é, ao mesmo tempo, essencialmente brasileira e maleavelmente global, uma raridade entre chorões com tanta reverência à tradição, que dá às suas leituras a agilidade de um Django Reinhardt ou um Charlie Christian.
Em Mundo de Pixinguinha e O Que Será, dois discos que saem este mês, o bandolinista reafirma essas características. No trabalho dedicado ao grande mestre brasileiro, Hamilton toca raridades e marcos do choro acompanhado de renomados instrumentistas internacionais como Chucho Valdés, Wynton Marsalis e Omar Sosa. Em O Que Será, seu primeiro disco para o lendário selo alemão ECM, registra ao vivo um de seus afinados shows em dupla com o pianista italiano Stefano Bollani.
“Esta forma de tocar é totalmente brasileira”, conta Hamilton à reportagem, em resposta a uma pergunta sobre possíveis influências do jazz em sua abordagem. “O Dominguinhos fazia isso. Os discos do Paulo Moura despertaram essa forma de tocar em mim. Como em Mistura e Manda, é um jeito diferente de improvisar, apesar de a essência ser brasileira. Cria-se, então, um fraseado brasileiro, baseado em variações sobre a melodia, como é feito no choro, e não sobre os acordes, como é feito no jazz”, explica.
A contemporaneidade de seus improvisos facilita o trabalho de embaixador musical que faz em Mundo de Pixinguinha, disco que apresenta domingo, 8, em São Paulo, com participação de Richard Galliano e Stefano Bollani. Para a realização do trabalho, Hamilton fez diversas paradas internacionais para gravar um repertório que inclui os clássicos (Carinhoso, Lamentos, Um a Zero) e também raridades como Canção da Odalisca e Agradecendo, que tem no disco sua primeira gravação.
“O projeto partiu de uma ideia que sempre tive de que a música de Pixinguinha é agregadora por natureza. É daquele tipo que dá vontade de chamar um amigo pra tocar, compartilhar. O projeto então virou isto: uma chance para dividir com e mostrar para músicos do jazz a obra de um de nossos grandes compositores”, explica.
MUNDO DE PIXINGUINHA – Teatro Alfa. R. Bento Branco de Andrade Filho, 722, Santo Amaro, 5693-4000. Dom., 20h. De R$ 100 a R$ 120.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.