Há seis anos, Jason Moran acompanha o lendário saxofonista Charles Lloyd. Nas palavras do pianista, tem sido um grande aprendizado em paralelo à sua própria banda. Os resultados constam, sem dúvida, entre as grandes parcerias de ícones e prodígios da atualidade (Moran, por sinal, cresce quando toca com ícones e está entre o punhado de músicos que possuem um vasto conhecimento da tradição pianística no jazz – vide Lost in a Dream, em que acompanha o baterista Paul Motian). Três discos e dezenas de shows depois, Lloyd e Moran chegam a Hagar’s Song, o primeiro registro em dueto da dupla, lançado no fim de fevereiro pela ECM.
Menos baixo e bateria, despido à essência, o disco é tanto um atestado da bela fase em que se encontra Lloyd, quanto uma aula em si do brilhante pianista, craque em acompanhar mestres sem tornar-se coadjuvante. A dinâmica dos elogiados shows que a dupla fez no Rio e em São Paulo, em 2012, já indicava o equilíbrio telepático ouvido nos discos. Hagar’s Song o registra sem interferências, embora os espaços deixados por Eric Harland (bateria) e Reuben Rogers (baixo) ofusquem o brilho criado pelo grupo em discos anteriores, como Rabo de Nube.
Ao centro do repertório está uma suíte composta por Lloyd para sua tataravó escravizada, que batiza o álbum. São as faixas mais soltas de Hagar’s Song, e proporcionam os melhores diálogos do disco. Construídas sobre o idioma modal desenvolvido por John Coltrane, uma das maiores influências de Llloyd, nos anos 60, são belos veículos. O leque de timbres alcançados pelo saxofone de Lloyd, e a delicadeza com que dialogam com os pedais infindáveis, e figuras brincalhonas de Moran, se destacam como o trunfo do disco. A elegante dança entre os instrumentos continua nas standards incluídas no disco, entre elas, clássicos como Mood Indigo, esquecidas como Rosetta, e pérolas mais recentes, como God Only Knows. Nestas, a sensibilidade de ambos se limita à tocante superfície sugerida pelo lirismo das próprias composições.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.