Cearense (de Aracati), com extenso currículo como diretor de curtas e assistente, Armando Praça demorou dez anos para concretizar sua estreia no longa. Em fevereiro, ele mostrou Greta no Panorama, em Berlim. Em setembro, venceu o CineCeará – melhor filme, direção e ator, para Marco Nanini.
Por que a peça de Fernando Mello?
Procurei durante muito tempo o que seria meu primeiro longa. Além de cinema, estudei dramaturgia e conhecia a peça, que é considerada precursora do besteirol e de autores como Mauro Rasi. Mas isso foi há mais de dez anos. Assisti a uma montagem, que foi um sucesso de público, mas abordava a solidão desse universo gay e marginal com preconceito, como motivo de chacota e para rir do viado. Quando encarei seriamente a adaptação, dei-me conta de que seria necessário todo um trabalho de resgate da essência desses personagens. Sem forçar o humor, o que ressalta é o drama e eu pautei minha adaptação pela chave do melodrama à maneira do alemão Rainer Werner Fassbinder, que é um grande diretor, a quem admiro muito.
Nanini?
Confesso que eu precisava de um plano B, caso ele não aceitasse, mas desde o início ele era a minha opção número um. Para mim, era absolutamente necessário evitar a caricatura e eu tinha certeza de que com Nanini conseguiria. Tive a sorte de conseguir montar esse grande elenco. Além do Nanini, que queria esse personagem e foi de uma entrega, de uma verdade muito grande, a Denise (Weinberg), o Demick (Lopes), a Gretas Starr, que foi maravilhosa.
Se você começou a trabalhar no projeto há dez anos, era outro mundo, outro Brasil. Como foi chegar até aqui?
Foi sofrido. Há dez anos o Brasil era um, quando filmei era outro e agora, na estreia, um muito pior. Apesar do ranço moralista e do conservadorismo, o que sinto é que há um público que quer essas histórias, e nós vamos contá-las.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.