A cada novela ou minissérie, a televisão lança um punhado de rostos desconhecidos do público televisivo. Na grande maioria, jovens aspirantes à carreira artística. As aparições de atores consagrados em cinema e teatro costumam ser bem mais raras. Só que, recentemente, uma série de veteranos vem “debutando” na telinha.

Araci Esteves, intérprete da italiana Constância, de “Esperança”, Luiz Carlos Vasconcelos, que encarna o imaginativo Pé de Vento, de “Pastores da Noite”, e Werner Schünemann, que viverá o General Bento Gonçalves na minissérie “A Casa das Sete Mulheres”, são apenas os casos mais recentes. Eles passam a integrar o mesmo time de Luís Melo, Floriano Peixoto e André Mattos, por exemplo. Atores que, por opção ou falta de oportunidades, só encaram a teledramaturgia depois de muitos anos de estrada.

A gaúcha Araci Esteves já tinha mais de 30 anos de carreira, dedicados ao cinema e ao teatro, quando aceitou o convite do diretor Luiz Fernando Carvalho para integrar o elenco de “Esperança”. Na tela grande, seus últimos trabalhos tinham sido “Anahy de las Missiones”, como a personagem-título do filme de Sérgio Silva, e “Netto Perde Sua Alma”, de Tabajara Ruas e Beto Souza. Neste último, contracenou com o “conterrâneo” Werner Scünemann – como o General Netto. Foi justamente nesse trabalho que Werner chamou a atenção de Jayme Monjardim. O diretor de “A Casa das Sete Mulheres” estava à procura de um intérprete para Bento Gonçalves – o superior de Netto e líder da Revolução Farroupilha. “Ele é um grande ator do Sul e tem a garra que o papel exige. É um privilégio para mim lançá-lo na tevê”, elogia Jayme.

De fato, outros tentaram antes. Mas Werner estava sempre envolvido com algum filme e recusava. Na verdade, as propostas não eram lá muito atrativas. “Me chamavam para papéis pequenos, sem substância. Preferi esperar por uma boa oportunidade”, explica o ator, com 26 anos de carreira e mais de 20 filmes no currículo. Explicação parecida tem o paraibano Luiz Carlos Vasconcelos, que interpreta o mentiroso Pé de Vento na microssérie global “Pastores da Noite”, baseada na obra de Jorge Amado. Ele, contudo, parece ainda mais seletivo. “Na juventude, eu sonhava com a fama. Hoje, não faria televisão só por dinheiro ou sucesso. Priorizo os bons trabalhos, seja onde for”, diz o ator, que tem no currículo filmes como “Abril Despedaçado” e “O Primeiro Dia”, de Walter Salles.

Os veteranos de cinema e teatro costumam estranhar, de início, o ritmo acelerado da televisão. Mas é comum se destacarem logo na “estréia”. Foi o que aconteceu quando Floriano Peixoto encarnou o transexual Sarita Vitti, de “Explode Coração”, em 94. Embora o ator se sentisse meio perdido – “Eram muitas câmaras, marcações, microfones…”, diz -, o personagem caiu nas graças do público.

Já Luís Melo pertencia à companhia de Antunes Filho, que exigia dedicação integral. O trabalho sob a tutela do diretor lhe rendeu tal prestígio que Melo chegou a ser referência de ator “que não precisa da televisão para viver”, como ele mesmo diz. De fato, o ator recusou diversos convites em nome do teatro. Mas a vontade de experimentar uma nova linguagem acabou vencendo. Luís Melo incorporou o poético professor Rubinho, da novela “Cara e Coroa”, de Antonio Calmon, em 95. “Fui seletivo, mas não porque tinha preconceitos contra a tevê. Eu não queria era simplesmente passar pela televisão. Entrar até que é fácil. Difícil é permanecer”, avalia.

Sucesso na maturidade

Cláudio Corrêa e Castro estreou na televisão aos 40 anos. Aos 74, tem mais de 50 novelas no currículo, além de inúmeras participações em especiais.

# O ator e cantor Gilbert Stein teve dúvidas se era uma boa idéia aceitar o convite de Benedito Ruy Barbosa para viver o judeu Ezequiel, de “Esperança”. Ele não atuava em televisão há mais de 30 anos, quando fez novelas na Tupi. Aceitou depois de ouvir a opinião do autor, de que interpretar é como andar de bicicleta: “A gente nunca esquece”.

# Floriano Peixoto tem métodos incomuns para a televisão. O ator nunca aderiu ao hábito de assistir a filmes e buscar referências em outros personagens. Prefere se basear na próprias experiências, como sempre fez no teatro.

# Por só ter alcançado o sucesso na maturidade, Arlete Salles passou a ouvir do amigo Miguel Falabella que ela tinha “um anjo caprichoso”, que lhe concedeu o auge quando a maioria entra em decadência.

Estreantes veteranos

Mesmo com experiência e algumas oportunidades na tevê, tem atores que levam um bom tempo para “acontecer”. Eliane Giardini e André Mattos sabem disso. Eliane estreou na televisão em 1982, na novela “Ninho da Serpente”, na Band. Mas só começou a sentir o gostinho da fama 11 anos depois, com Yolanda, a “Dona Patroa” de “Renascer”, na Globo. “No Brasil o ator só tem reconhecimento quando faz tevê. Eu me sentia frustrada quando cumprimentavam o Paulo (Betti) e depois perguntavam o que eu fazia”, desabafa Eliane, que foi casada com o ator.

André Mattos consolidou a carreira artística atuando em 13 filmes e mais de 70 peças. A primeira chance na televisão veio pelas mãos de Chico Anysio, em 95. No ano passado, ele emplacou o “Seu Fininho” na “Escolinha do Professor Raimundo”. Mas foi como o impagável Dom João VI, da minissérie “O Quinto dos Infernos”, que André alcançou a popularidade. “Duas semanas no ar e eu já tinha dado mais entrevistas do que em 18 anos de carreira”, surpreende-se.

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