Quando velhos sucessos de Raul Seixas começaram a tocar repetidamente nas rádios na tarde daquela segunda-feira, 21 de agosto de 1989, não foram poucos os que se surpreenderam.

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Com Raul ausente das paradas desde “Cowboy Fora da Lei”, dois anos antes, escutar antigos hits como “Ouro de Tolo”, “Gita”, “Metamorfose Ambulante” e “Maluco Beleza” no meio da programação regular – que então ia da revelação Marisa Monte a Chitãozinho e Xororó e Milli Vanilli, passando por Legião Urbana – deveria significar alguma coisa. E a notícia não demorou a chegar.

Se para muitos foi uma surpresa, para os que acompanhavam o artista de perto era mais que esperado. Suas últimas aparições públicas causavam um misto de choque e comoção. Mesmo com a saúde bastante debilitada, a lenda do rock brasileiro arrastava multidões em seus shows.

Apoiado pelo amigo e discípulo Marcelo Nova, acabara de realizar uma extensa e bem-sucedida excursão por todo o País. A derradeira apresentação foi em Brasília, poucos dias antes de ser encontrado morto no modesto apartamento onde morava sozinho em São Paulo. A semana que se seguiu ao show no Planalto Central seria de descanso e de preparação para as atividades programadas para o lançamento do disco gravado nos intervalos das apresentações pelo Brasil.

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A “Panela do Diabo”, batizado pela dupla por inspiração de evangélicos que distribuíam panfletos comparando Raul ao Belzebu na porta de um show no interior de São Paulo, era o resultado da parceria que uniu os dois irrequietos baianos no momento em que o País vivia uma de suas mais importantes transições.

Raul não viveria para ver o relativo sucesso do disco. Morreu aos 44 anos no dia em que o LP chegava às lojas. Também não viu o resultado daquelas eleições, a iminente queda do Muro de Berlim, a chegada da MTV, os anos 90, a internet… que talvez poderão ser cantadas por alguém daqui dez mil anos.

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