Em sucessivos foros onde apresentou “A Rosa Azul de Novalis” (Berlinale, Mix Brasil, etc.), o diretor Gustavo Vinagre – que coassina a obra com Rodrigo Carneiro – repetiu sempre a mesma coisa. “Vivemos num mundo tão reprimido que ninguém se choca mais com a violência, mas ainda criticamos a imagem do sexo.” “A Rosa Azul” ganhou o prêmio especial do colegiado de cinema da APCA e uma menção especial para o ator Marcelo Diorio na mostra Novos Rumos, do Festival do Rio. Marcelo é assumidamente gay, e soropositivo. Como o tio Bonmee de Apichatpong Weerasethakul, que acreditava reviver suas vidas passadas, ele está convencido de que, em outra encarnação, foi o poeta romântico alemão Novalis.

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O próprio Vinagre, que já dirigiu “Lembro Mais dos Corvos” – com a trans Julia Katharine -, faz a advertência sobre seu filme, porque ele tem cenas de sexo. Por mais árduo que isso possa parecer para muitas pessoas, “A Rosa Azul” transcende o sexo, e até formas narrativas tradicionais – é documentário, mas possui cenas encenadas, portanto nas bordas (da ficção) -, para debater questões estéticas, metafísicas, até teológicas.

Nada é impossível – para Deus -, enquanto a jornada humana é marcada, na concepção de Novalis, pela busca por uma inatingível rosa azul, que virou símbolo do romantismo. Esse romantismo atravessa o filme, entrando muitas vezes em choque com o naturalismo das cenas de sexo, que são explícitas.

A morte e o posterior velório do irmão revelam que Diorio consegue ser um extraordinário ator de si mesmo. Está sendo sincero, fingindo? Mas não foi Fernando Pessoa quem disse que o artista é um fingidor, que finge ser dor a dor que sente de verdade? Durante todo o tempo ele se questiona, e questiona o mundo. Assume-se como agente subversivo do sistema. Critica o pai e o avô como representação de uma ordem patriarcal e homofóbica. Autodefine-se como “peixe com ascendente em câncer” e explica – “É como a Dory de Procurando Nemo morrendo de linfoma. A gente chora muito”.

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Ao apresentar “Lembro Mais dos Corpos” e “A Rosa Azul”, Vinagre também diz que são filmes que naturalizam vozes que costumam ser vistas como diferentes. Rodrigo Carneiro e ele foram colegas no curso de cinema em Cuba. Trabalham juntos – Carneiro tem formação como montador -, mas é o primeiro crédito de codireção.

A proposta de viajar na cabeça do personagem é radical, mas deu certo. Em todo o mundo, o filme tem sido recebido com admiração e respeito. Para a prestigiada revista Cahiers du Cinéma, é audacioso, brilhante, por vezes chocante. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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