Sucesso de público e crítica nos festivais de Sundance, Berlim e Toronto, Me Chame pelo Seu Nome inaugura nesta quarta, 15 , o 25º Mix Brasil. A sessão para convidados, no Auditório Ibirapuera, será precedida por show aberto, na parte externa da sala, da Liniker e os Caramelows. Na quinta, começa o evento para o público, no Cinesesc. Gus Van Sant é o homenageado deste ano e, além de uma minirretrospectiva, recebe o troféu Ícone Mix. Na sexta, 17, às 11 h, participa da abertura do 2ª Miclab Spcine, na sala Jardel Filho do Centro Cultural São Paulo, num encontro franqueado ao público, mediante inscrição prévia, que será confirmada no site do festival.
O brasileiro Rodrigo Teixeira é um dos produtores, através da RT Features, do filme do italiano Lucca Guadagnino. Me Chame pelo Seu Nome é sobre a atração de um garoto por um erudito norte-americano, amigo de seu pai, que se hospeda na casa da família, numa das regiões mais belas da Itália. Guadagnino esteve no Festival do Rio para promover o filme. Teixeira, sempre a seu lado, está otimista de que Me Chame pelo Seu Nome será indicado para o Oscar – não na categoria de filme estrangeiro, mas entre os nove indicados da categoria principal. Até pela participação de Archie Hammer, Call Me by Your Name é quase todo falado em inglês (e francês). Segundo as especificações da Academia, seria difícil lograr uma vaga na categoria de filme estrangeiro. A Itália indicou La Ciambra, também produzido pela RT (e Martin Scorsese).
Vários filmes indicados por seus países para concorrer a uma vaga no prêmio da Academia estão na seleção deste ano do Mix Brasil. Mas, por mais que o público queira saber de novidades, a homenagem a Van Sant renova o interesse por sua obra. Além de Elefante, de 2003, que recebeu a Palma de Ouro, a retrospectiva vai exibir – Mala Noche, de 1985; Garotos de Programa, 1991; Até as Vaqueiras Ficam Tristes, 1993; Um Sonho Sem Limites, 1995; e Milk: A Voz da Igualdade, 2008.
Numa entrevista por e-mail, Van Sant respondeu a algumas perguntas da reportagem. Em seu Dicionário de Cinema, o crítico francês Jean Tulard diz que ele é o cineasta dos marginais, dos drogados e dos homossexuais. Se poderia acrescentar também – dos solitários. O que Gus pensa disso? “Acho que é uma avaliação acurada para alguns dos filmes, não todos. Também relativizo a ideia da solidão, porque acho que quando se usam grupos de outsiders para contar histórias, como eu faço, é até natural que as pessoas pensem em solidão, mas nos meus filmes eles nunca estão sozinhos.”
E o prêmio Ícone Mix? “A homenagem será feita a um autor queer que nem sempre filma histórias e personagens queers. É uma honra receber um prêmio desses numa cidade tão bonita no Brasil e que abriga um festival Mix. Mas, se ele é Mix, presumo que seja ‘mixed’ (misturado) e que não contemple somente uma coisa. Minha definição de ‘queer’ abrange o que foge à esfera do padrão heterossexual, e é nesse mundo em que vivo.”
Van Sant fez filmes muito diversos, e a retrospectiva no Mix Brasil dá conta dessa diversidade. Filmes independentes, do mainstream. Por quê? “Gosto de trabalhar com diferentes maneiras de contar histórias. Estou sempre buscando novas formas, mesmo sem saber se algum dia vou encontrar um caminho realmente novo, porque, afinal, sou prisioneiro da minha educação. Estão surgindo novas formas de expressão porque as pessoas estão filmando com suas câmeras, sem nenhuma preocupação com regras. A ignorância nos salva. É muito interessante constatar que é dessa maneira, no limite, que o cinema está mudando.”
Quanto ao seu gosto por elipses – “Creio que o estilo elíptico surgiu como necessidade de fugir a uma maneira standard de contar as histórias. Não inventei nada. As elipses já eram populares desde os anos 1960, quando era estudante e fui aluno de William S. Burroughs. Literalmente, ele cortava as histórias com tesouras e depois ia reunindo os pedaços. As elipses começam quase sempre com as escritas, no roteiro.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.