O ano era 1994. Kurt Cobain havia dado um tiro na própria cabeça, acabando com as esperanças de muita gente que achava que o rock sujo, gritado e acelerado perduraria por mais tempo nas rádios, especialmente nos EUA. Mas apenas três dias após a morte do líder do Nirvana, uma banda de punk rock saída da ensolarada Califórnia, o Offspring, deu alento para toda essa geração, apresentando ao mundo o disco Smash.
O álbum se tornou o mais vendido de todos os tempos por uma gravadora independente – a Epitaph Records -, enchendo de esperanças milhões de garotos que haviam acabado de perder seu ídolo e que ainda guardavam muita energia para rebeldia sem sentido. O disco marcou ainda a reascensão do punk rock, ajudando também a carreira de bandas como Blink-182 e Green Day.
Sentindo mais a mudança de comportamento dos jovens do que os 24 anos de carreira, o Offspring volta ao Brasil para a turnê do novo álbum, Rise and Fall, Rage and Grace, apresentando-se em Curitiba na próxima quarta-feira. “Eu sou da época em que era perigoso ser punk, quando você era surrado por causa disso. Eu não sei se a molecada de hoje entende isso”, contou, por telefone, o guitarrista Kevin “Noodles” Wasserman para O Estado.
Com idéias bem claras sobre como lidar com os avanços da internet e bem à vontade com a condição de “tiozinho” punk, Noodles contou que as novas bandas, ao menos, parecem ser mais criativas. “Acho que por isso fui tocar punk rock, porque meus contemporâneos eram todos muito chatos.”
O que você lembra dos últimos shows no Brasil?
Noodles – Cara, eu me lembro dos fãs! Loucos! É sem dúvida um dos melhores lugares do mundo para se tocar, porque as pessoas realmente parecem curtir a música. Não há fãs tão energéticos na Terra como os que encontrei no Brasil.
Após 24 anos numa banda de punk rock, você consegue dizer o que é o punk?
Noodles – Há uma diferença nessa concepção com os envolvido com bandas antes e agora. Eu não sei se ainda tem o mesmo sentido. Eu sei que para a velha guarda era o espírito de rebelião, quebrar as regras… Não sei se para os garotos de hoje é assim. Eu sou da época em que era perigoso ser punk, quando você era surrado por causa disso. Eu não sei se a molecada de hoje entende isso.
Mas isso também não mudou para vocês? O Offspring vendeu muitos CDs, fez dinheiro. Vocês têm até seu próprio avião…
Noodles- Ei, mas o nosso jato tem um baita símbolo da anarquia desenhado na cauda. (risos) E isso sempre causa algum incômodo quando vamos cruzar fronteiras. Então, de certa forma, isso ainda é quebrar as regras. Além disso, não podemos ser anarquistas num avião comercial.
E eu ainda gosto de avaliar essas coisas quando penso na forma como vivo a minha vida e na forma como faço música. Para mim, o punk rock é algo pessoal, que me mostrou muito sobre como a vida funciona e seu significado. E isso você não compra e não aprende vendo TV. Eu acho que os punks hoje não têm nem pista sobre isso. Eles não entendem como isso tudo era perigoso.
Então o sentimento de ser punk hoje não é mais o mesmo? Mas mesmo vocês já não eram da geração original do punk…
Noodles – Mas hoje não é nem um pouco parecido. O perigo se foi. Hoje quem está numa banda punk namora a Paris Hilton! (risos) Antes você não via punks namorando celebridades como essa. Por outro lado, acho que atualmente há uma abertura muito maior para os diferentes pontos de vista. A internet é o maior canal que existe para se expressar. Acho que os jovens hoje são mais criativos. Acho que por isso eu fui tocar punk rock,, porque meus contemporâneos eram todos muito chatos. Seguiam todos pro mesmo lado.
A internet seria então uma ferramenta para fazer punk rock…
Noodles – Certamente ela democratiza a indústria da música. E não só os músicos, mas também para quem faz filmes, artistas. Dançarinos podem fazer seus próprios vídeos e se tornarem super conhecidos da noite para o dia. Você não precisa ter uma grande gravadora por trás. Você pode ouvir alguém realmente interessante no myspace ou no iTunes. Você pode fazer um vídeo diferente e ele se tornar viral sem gastar praticamente nada.
Nesse sentido, o compartilhamento de arquivos de músicas na internet te incomoda?
Noodles – Bem, nós não estamos mais fazendo tanto dinheiro quanto fizemos com Smash ou mesmo com o Americana. Mas eu acho que na verdade é apenas questão de descobrir como fazer a internet trabalhar para a gente. Eu cresci gravando fitas para meus amigos e eles para mim, e essa era a forma que eu conhecia as bandas que existiam para sair e comprar o disco. Apenas acho que é um mundo diferente hoje. Não posso apenas chorar e reclamar sobre isso como muita gente na indústria faz, remando contra a maré. Isso não vai levar a lugar algum. Eu acho que a internet, primeiramente, é uma forma ótima de ficar em contato com seus fãs, ter suas letras e vídeos conhecidos, mostrar para as pessoas onde você está tocando, em qual lugar do mundo. É apenas questão de aprender a mágica.
Você acha que o álbum Smash teria o mesmo sucesso se a internet estivesse lá, em 1994?
Noodles – Não sei, apenas posso dizer que fiquei feliz por ele ter sido lançado naquela época! (risos) É difícil ter uma idéia clara sobre isso. Foi o álbum certo para aqueles dias. Mas certamente venderíamos menos, hoje.
Falando sobre o trabalho atual, como você descreve o novo disco, Rise and fall, Rage and Grace?
Noodles – Fizemos as estruturas das músicas bem simples, da mesma forma que fizemos com Smash, mas não há nenhuma faixa engraçadinha ou brega. É um disco muito sério. Sempre colocamos uma música engraçada nos discos, como Pretty Fly (for a White Guy). Mas acho que agora é um mundo muito mais sério em que vivemos, então acho é o álbum certo para 2008.
E por que esse hiato de cinco anos entre o disco anterior, Splinter (2003), o novo álbum?
Noodles – Na verdade, Splinter foi gravado muito rápido, em apenas três meses. Depois, saímos em turnê do disco. Se somarmos, só tivemos tempo para pensar no próximo trabalho no fim de 2005, o que diminui um pouco esse espaço. Já em Rise and Fall, gastamos mais que o dobro de tempo para fazê-lo. E a vontade era conseguir o melhor trabalho que já havíamos feito. Sabíamos que algumas bandas mais antigas, como o Metallica iriam lançar trabalhos, e que seriam bons, que precisaríamos nos esforçar. Até o Guns N’Roses conseguiu lançar um disco novo! (risos) E a internet e tudo mais nos forçaram a procurar uma forma de sermos mais competitivos. Estava conversando com o Fletcher, guitarrista do Pennywise, sobre essa necessidade industrial de fazer um álbum e logo fazer uma turnê, passando por cima da qualidade. Mas cada vez mais sinto vontade de me esforçar para que o próximo seja sempre o melhor disco que já fiz.
Serviço
The Offspring
Dia 12/11, às 22h30, no Curitiba Master Hall (Rua Itajubá,143 – Portão).
Preços: R$ 80 (meia-entrada para estudantes, idosos e p/ doadores de 1 quilo de alimento não-perecível). Valor sujeito a alteração sem aviso prévio.
Pontos de Venda: Lojas 30 Pés, Disk Ingressos (41 -33150808/ www.diskingressos.com.br e nos quiosques instalados nos Shoppings Mueller e Curitiba) e no local.
Informações: (41) 33150808 / 33150800. Censura: 16 anos.