Há, nas letras cantadas pelo Sound Bullet, aquela sensação deliciosa de entender quem é, nas imperfeições, nas falhas e acertos. Não há nada mais humano do que o erro – é o que aproxima a humanidade das divindades, em diferentes religiões, afinal. E é justamente no período de transição, da saída da adolescência (quando a petulância jovem é mais forte do que a compreensão do mundo ao redor) e entrada na vida adulta, que vive-se o período de entendimento cantado pelo quarteto do Rio de Janeiro no disco Terreno, lançado no ano passado – com direito a citações em diferentes listas de melhores desse intenso 2017.

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Uma estreia carregada de existencialismo, questionamentos de uma banda cuja carreira se iniciou há cinco anos e, agora, estreia com um álbum de fato, com começo, meio, fim e um conceito.

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Terreno, o disco, é o foco principal da apresentação da banda fará por São Paulo nos próximo sábado, 3, a partir das 18h, no espaço Augusta 339. Dividem a noite as bandas Lavolta, de São Bernardo do Campo, e o duo de guitarra e bateria Robur.

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Formado por Guilherme Gonzalez (guitarra e voz), Fred Mattos (contrabaixo e voz), Henrique Wuensch (guitarra) e Pedro Mesquita (bateria), todos vivendo seus 20 e poucos anos, o Sound Bullet “estreia” na fase adulta e definitiva da banda com Terreno, um disco precedido pelo EP Ninguém Está Sozinho, de 2013, e a música When It Goes Wrong. O single, lançado há dois anos, cantado em inglês, foi responsável por catapultar a popularidade da banda no exterior.

No Spotify, por exemplo, a música foi ouvida mais de 700 mil vezes, um número estrondoso para um grupo em início de carreira e trabalhando na formação de um público. “Esses números foram surpreendentes até mesmo para a gente”, confessa, rindo, Mattos. “Um rapaz do Japão entrou em contato conosco para poder usar a música em um podcast dele. Isso é surreal.” Como a música foi gravada dentro de um projeto da Converse Rubber Tracks, com versos em inglês, o impulso pode ter vindo daí, mas a música tem apelo inegável. A linha de baixo bem definida ergue voz e as guitarras de riffs bem desenhados. O refrão, antecedido por um breve intervalo de silêncio, é um convite ao delírio e à melancolia inerente.

No single, a banda gritava para tentar entender o que houve de errado, sentia a dor e a ausência dela. A maturidade da nova fase se apresenta, por exemplo, na música Em Um Mundo de Milhões de Buscas, escolhida para ganhar um videoclipe na qual é possível ver o processo de gravação da faixa, lançado com exclusividade no site do Estado. “Eu vejo em mim o que passou / Em um segundo se acabou / A saudade vem angustiar / Mas meu coração não para”, diz uma das estrofes e expõe a diferença de perspectiva adotada pela banda em Terreno. “Já posso te ver sorrir / Após milhões de buscas que eu fiz.”

Ao longo novembro de 2016 e abril de 2017, o grupo trabalhou nas 11 canções de Terreno, álbum produzido por Patrick Laplan, um sujeito que entende de dar peso e graves nas canções. O disco foi lançado em setembro do ano passado, depois de ser masterizado no Hanzsek Audio, em Seattle, nos EUA.

Aos poucos, a linha responsável por costurar as canções do álbum – a humanidade – se apresentou para o quarteto. “Não é que a gente já imaginava isso desde o começo. De repente, isso se apresentou. O conceito é posterior”, conta Mattos. “Tínhamos composto metade das faixas quando percebemos essa narrativa, essa visão de tratar a humanidade e a imperfeição.”

E é um momento muito específico esse, o fim da inocência e petulância e o breve otimismo diante da vida adulta nascido a partir da segurança em si próprio. Depois, ele passa, os boletos chegam um seguido do outro, mas é revigorante voltar para esse tempo, mesmo que durante os 42 minutos de som.

SOUND BULLET

Augusta 339. Rua Augusta,

339, Consolação. Sáb. (3),

a partir das 18h. R$ 20.

Com Lavolta e Robur.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.