Guilherme Weber acostumado aos palcos se surpreende com assédio que vem da TV

Depois de 12 anos de trabalho ininterrupto nos palcos, Guilherme Weber não pôde deixar de se surpreender com a abordagem do público em função de Tony, o vilão que interpreta em Da Cor do Pecado. “Em duas semanas, já tinha mais gente falando sobre meu trabalho do que em 12 anos de vida no teatro”, assusta-se. O assédio, longe de deixá-lo irritado ou desconfortável, é apontado como um dos aspectos mais prazerosos da estréia na tevê. Principalmente porque o público “não dá folga” a Tony.

Na irritação das pessoas contra o personagem, Guilherme enxerga não apenas um sinal de que tem atingido seu objetivo, mas também um motivo para “renovar a fé” no povo brasileiro. “Ninguém chega na cumplicidade, compactuando com o cara porque ele se dá bem. Não tem um: ‘E aí, se deu bem, hein?’. É sempre: ‘Você trocou o exame de DNA, seu canalha!'”, conta, esmerando-se na interpretação dos tipos.

Apesar de reconhecer que os atores formados no teatro costumam nutrir um grande preconceito contra a tevê, Guilherme garante que a demora em se render às novelas não foi fruto de qualquer resistência pessoal. O ator, que fez uma pequena participação na novela Um Anjo Caiu do Céu e outra no seriado Os Normais, já tinha recebido outros convites. Mas nunca conseguiu conciliar os trabalhos com a agenda da Sutil Companhia de Teatro, da qual é fundador, ao lado do diretor Felipe Hirsch. Mesmo que tivesse alguma dúvida quanto à participação em Da Cor do Pecado, no entanto, ela teria se dissipado no final do ano passado. No elenco do longa-metragem Árido Movie, de Lírio Ferreira, Guilherme viveu o que chama de “um processo libertário” no sertão de Pernambuco, onde passou dois meses filmando. “Via as cidades parando para ver as novelas às seis horas da tarde. Aquele é o grande momento na vida daquelas pessoas. Passei a achar leviano levantar o dedo contra a novela no Brasil”, justifica o ator.

Paciência

A estréia nos estúdios não foi fácil. Guilherme até hoje agradece a “paciência” que os diretores da novela tiveram com sua necessidade de adaptar a experiência dos palcos à linguagem televisiva. Nada foi mais difícil, no entanto, do que conferir sua própria atuação no vídeo. Perfeccionista, Guilherme sempre achava que tinha desperdiçado a oportunidade de uma reação imperdível. E tomou uma decisão: não assiste mais aos capítulos da novela. “Era muito sofrimento. No começo, achei que ia ficar fazendo o percurso Projac-Barra D’Or”, brinca, citando o hospital de bacanas da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.

Fora este detalhe, Guilherme tem atendido com louvor a todas as solicitações que o novo trabalho exige de sua interpretação. Como o fato de nunca saber o que esperar de seu personagem. “Vivo levando sustos. Gravar uma cena de cueca no meio de uma favela é uma coisa que nunca imaginei, principalmente para o Tony”, destaca, aos risos. A bem-humorada cena na qual o vilão ganha um “castigo” da não menos maquiavélica Bárbara, interpretada por Giovanna Antonelli, foi uma verdadeira prova de disponibilidade para o ator. “Não vejo o Tony em situações de comédia, mas faz parte do meu exercício controlar esta tendência de defender o personagem que compus de início”, explica, visivelmente animado.

Trabalhos

Entre seu último trabalho no teatro, A Morte de um Caixeiro Viajante, e o início das gravações da novela, Guilherme integrou o elenco de três longas-metragens. Além de uma pequena participação em Nina, de Heitor Dhalia, fez Olga, de Jayme Monjardim, e Árido Movie. Com Jayme, ele sente ter passado por uma espécie de faculdade de relação com as câmaras. “Foi maravilhoso ter vivido esta experiência antes de mergulhar na tevê”, valoriza, ansioso com a estréia do filme. “Acho que vai ser um novo ‘momento Barra D’Or’. Mas, pelo menos, dura só duas horas”, diverte-se. Ao contrário de ver seu próprio trabalho na tela, ficar rotulado como vilão na tevê é uma coisa que não assusta Guilherme. Ele já sabe que quer continuar fazendo novelas e diz que não rejeitaria um papel só por ser outro malvado. “Sempre tive a preocupação de ter uma carreira múltipla. Mas não recusaria um bom personagem por ser vilão. Mesmo que seja o próximo”, assegura, tranqüilo.

Com o diretor Felipe Hirsch, Guilherme Weber conseguiu encontrar o que considera seu grande patrimônio como ator: uma assinatura artística. Fundadores da Sutil Companhia de Teatro, de Curitiba, os dois se conheceram durante o período colegial, quando começaram a trabalhar como amadores. Depois, ensaiaram uma ida para o Rio de Janeiro, com o objetivo de estudar teatro na Uni-Rio. Mas nenhum dos dois concluiu o curso. “O grande valor de uma faculdade de teatro é você encontrar ‘sua turma’ e nós já sabíamos o que queríamos fazer”, explica ele.

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