Bastou apenas uma leitura do texto de “A Forma das Coisas” para Guilherme Leme logo se engajar no projeto – além de ator e diretor, ele se dedicou às artes plásticas durante dez anos, assunto que é o ponto de partida da peça escrita pelo cineasta e dramaturgo americano Neil LaBute em 2001. “A forma como ele discute o rumo da arte contemporânea me encantou profundamente”, conta Leme, que assina a direção da montagem que estreia hoje no Espaço dos Parlapatões.
Bastou a primeira cena para cativá-lo: prestes a concluir seu mestrado sobre Artes, Evelyn (Carol Portes) decide pichar a imensa escultura de um homem nu. Adam (Pedro Osorio), o tímido e introspectivo segurança do museu, tenta impedir, mas acaba dissuadido por ela. Mais: encantado com a garota, ele começa a namorá-la e, pouco a pouco, inicia a transformação de seu jeito de ser, física e moralmente, moldando-se aos desejos de Evelyn.
A mudança não é apenas comportamental – de gordinho e nerd, Adam adquire o perfil de um rapaz descolado, provocando estranhamento em Diana (Karla Dalvi) e Johnny (André Cursino), amigos que foram deixados para trás em nome de sua paixão pela moça. “O que o público não percebe de imediato são as intenções de Evelyn”, conta Leme, obviamente guardando o segredo para quem for ao teatro. “As frases finais dela provocam uma certa perplexidade.”
Da dramaturgia de LaBute, Leme conhecia apenas o texto dirigido por Monique Gardenberg, Baque. E ali identificou um paralelismo entre uma tragédia grega e fatos contemporâneos. “LaBute gosta não apenas de misturar épocas como também de utilizar recursos do cinema e do teatro. Afinal, se seus filmes privilegiam, muitas vezes, os diálogos (a câmera praticamente não se movimenta), as peças têm uma sucessão de cenas que lembra a troca de cenários de um longa.”
É o que acontece, aliás, em A Forma das Coisas – depois de começar em um museu, a trama avança por outros nove lugares diferentes (sala de apartamento, vestiário de escola, cafeteria, parque, auditório da faculdade, etc.). A solução foi utilizar um cenário mínimo, com apenas cinco totens brancos de madeira. “Dependendo da posição, eles tanto simbolizam o banco de um vestiário como as palmeiras de um parque”, conta Leme. “A arte, como diz a peça, é transformadora.”
A Forma das Coisas – Espaço Parlapatões (96 lugares). Praça Roosevelt, 158, centro. Tel. (011) 3258-4449. 5ª, 21 h; 6ª, 21h30. R$ 30. Até 21/5.
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