Guilherme do interior do nosso país Ribeiro

O acordeonista Guilherme Ribeiro começou uma turnê de shows do disco “Calmaria” pelo interior do Estado de São Paulo após ser lançado na capital, no ano passado. O primeiro show foi realizado em Santos, no mês passado. Ele ainda se apresentará em Marília (24/09), Sorocaba (04/11), Araraquara (03/12) e Franca (10/12). A atração faz parte da programação do projeto “Sesi Música 2011 – Erudita”, apesar de também de poder ser listado como um expoente da “Música Popular Instrumental Brasileira” (MPIB). No dia 25 de setembro, ele fará parte do show do site Música de Graça, no Auditório Ibirapuera, mas tocando piano na música “Nada a Declarar”, parceria sua com os amigos Ricardo Teté e Conrado Goys.

A sua forma de tocar impressiona ao expressar tudo o que já fizeram Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti e Dominguinhos. Mas de uma forma muito peculiar. Mas atenção produtores – o ego de alguns produtores é maior que o da maioria dos músicos: ouvir Ribeiro é um presente aos amigos. Isso não quer dizer que André Mehmari & Hamilton de Holanda não sejam dignos do Prêmio da Música Brasileira que receberam com “Gismontipascoal – A Música de Egberto e Hermeto”, por exemplo. O maior sofrimento de Mehmari talvez seja o de que ninguém o veja numa inspiração intestina como ousou fazer Thiago Alves, compositor e contrabaixista da Reteté Big Band em “Remember Pastels”, que está no novo disco do Movimento Elefantes. É… na casa da sogra, a beleza da vida acontece de porta aberta. Maestro Branco, da banda Savana, é que tem que dosar essa onda depois, soltando bom ar no recinto.

O fato é que não há estrondo que assuste o moço Ribeiro. O sujeito é calmo. No ano passado, em entrevista para explicar o prêmio de R$ 25 mil que ganhou do Proac para produzir o disco, falou muito bem sobre a inspiração de algumas músicas, antes mesmo de gravá-las, especialmente “Virgínia”, que fez para a avó. “A minha avó é como todas as avós. E ela… enfim, ela faleceu no início de 2005. As pessoas me inspiram, os lugares me inspiram. Tenho relação musical com isso. A morte dela foi uma perda familiar, ela era muito querida e foi como uma homenagem póstuma. É uma música que tem uma certa doçura.”

Mas sobre o selo, a distribuição? “O disco acaba sendo da gravadora e do selo. E eu não estudei muito o contrato de distribuição, mas estará no site e nos shows que vou fazer. Mas não tenho nada em mente.” É… ele tem uma dificuldade razoável com a vida prática. Já tomou tanta multa por tantos motivos que a esposa perdeu a carteira de motorista. O carro está no nome dela. Pior: Débora Venturini é a produtora executiva do disco. O ego é até menor que o da maioria dos produtores, mas infelizmente, ela também é jornalista. Só o Ricardo Mosca para pedir mais calma.

Mas o amor – e também o fato dela ser aquariana – que gerou o disco e uma linda filha é mais forte que a explicação, até muito razoável, de que é difícil sair ileso de uma cidade onde em uma rua se pode andar a 60 km/h e, 5 metros depois, a 50 km/h: “Magri” abre o disco, uma homenagem à esposa, que é sua família, sempre foi. “Flora e as Bonecas” é inspirada na filha, a segunda música do disco, que é impecável. Mas é preciso que algum crítico escute e explique de onde se emana tanto amor em tanta gente. Parece estar aí a chave para explicar como Ribeiro forma suas frases musicais no tempo. E como, nesse palavreado todo onde a capital encontra o mar do interior, somam-se os comentários tão inspiradores quanto os de Ribeiro com Gabriel Grossi (gaita), Sidiel Vieira (contrabaixo), Rubinho Antunes (trompete), Michi Ruzitschka (violão) e Pedro Ito (bateria). A única perturbação causada pelo disco é que, infelizmente, não é possível reunir todo mundo sempre para os shows. Cada um tem sua correria do dia a dia. E, para complicar, Rubinho Antunes agora guarda a Torre Eiffel (sempre no bom sentido).

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo