Um mediador de um debate com a mão mais pesada. É assim que o contrabaixista Rui Barossi define a forma que vem utilizando para compor novas músicas para o Grupo Comboio, coletivo de 12 músicos que apresentará parte do novo repertório em show hoje, no Teatro da Vila, núcleo de resistência da música instrumental do Movimento Elefantes, que reúne dez big bands. Até abril de 2011, o terceiro disco do Grupo Comboio estará na praça, também com composições e arranjos do trompetista Rubinho Antunes e do flautista e saxofonista Jair Teixeira.

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O peso da mão de Barossi não tem qualquer relação com alguma tendência ditatorial. Ele é fã da compositora americana Maria Schneider e pensa em arranjos em que bateria, contrabaixo e sopros não apenas acompanham o solista, mas também dialogam diretamente com o improvisador. Aliás, ele assim como Beto Sporleder (saxofone) e Guilherme Marques (bateria) integram o Grupo Comboio e também o “À Deriva”, grupo que se permite ser navegado pelo mar, na linha limítrofe do free jazz.

No jazz, digamos, tradicional, há uma apresentação do tema musical, e o momento em que um instrumentista desenvolve o tema. Barossi pensa na improvisação como parte estrutural da composição. É como, por exemplo, saber o ponto de partida e chegada. No jazz tradicional, sabe-se o caminho e se faz sol, chuva ou se está nublado, mas quem faz o caminho é o improvisador. No esquema proposto pelo contrabaixista, além de saber tudo isso, o solista pode ser guiado por atalhos, alertas e sinais encontrados pelo caminho.

“Quem acompanha, provoca e guia o solista. Você cria um caminho. A improvisação não é tão aberta. Se você vai até o Parque Villa-Lobos sabe o destino e quem vai fazer o caminho é o solista. Mas no nosso caso, o caminho está mais delineado. Talvez o solista tenha um pouco menos de liberdade, porque tem um monte de música escrita. Mas se comparar a uma conversa, é como se o mediador tivesse uma mão mais pesada”, explica.

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Exemplo disso é a música “905”, de sua autoria, que faz parte do DVD lançado no ano passado pelo Movimento Elefantes, mas que sairá em CD apenas no ano que vem. “Em Tema de Maio (de Rubinho Antunes), também é possível perceber os instrumentos guiando o solista”, diz. O disco terá cerca de oito músicas. Mas no show de hoje o grupo revisitará também músicas do repertório do primeiro (“Sarado”, 2002) e do segundo disco (“Comboio”, 2005). O último com um projeto gráfico belíssimo assinado por Vânia Vieira. As músicas da banda podem ser ouvidas no www.myspace.com/grupocomboio.

Grupo Comboio – Teatro da Vila (Rua Jericó, 256 – Vila Madalena). Segunda-feira (13), às 21h. Pague quanto vale.

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