João Kléber: mundo cão.

O mundo cão está voltando gradativamente à programação televisiva. Nas produções vespertinas, casos escatológicos, abordagens sensacionalistas e a exposição de dramas de pessoas comuns viraram uma arma na guerra pela audiência.

João Kléber, Márcia Goldschimidt e Sônia Abrão, entre outros apresentadores, não pensaram duas vezes em lançar mão desse subterfúgio para ganhar o arisco ibope das tardes.

João Kléber, que um dia já foi considerado humorista e até estreou na Rede TV! com esta imagem, é o rei da apelação. Talvez exatamente por não levar nada a sério. Não bastasse o semanal Eu Vi Na TV, onde mulheres seminuas e cenas pretensamente sensuais servem de pretexto para ilustrar os “causos” simulados por atores amadores, Kléber repete todo o estilo no Canal Aberto. A produção, que foi lançada com o intuito de ser um misto de programa jornalístico e de variedades, abusa do tom escandaloso e sensacionalista para segurar o telespectador menos exigente.

O apresentador, inclusive, imprime o mesmo tom dramático e espalhafatoso do Eu Vi Na TV no programa das tardes. Quase cuspindo na câmara e aos berros, Kléber interrompe seus convidados sem a mínima cerimônia. Seja para enrolar o telespectador e chamar breaks comerciais ou, com a cara mais lavada do mundo, anunciar um merchandising para engordar o cofrinho, que já deve estar transbordante. Sempre sorridente, é claro, mesmo depois de ter mostrado um deprimente drama pessoal da forma mais debochada possível.

Curiosamente, Márcia Goldschimidt costuma fazer o mesmo no seu Hora da Verdade, da Band. A apresentadora explora ao máximo situações exóticas e até tristes de pessoas que geralmente chegam às lágrimas no palco do programa expondo suas mazelas.

Assim como seu colega de Rede TV!, Márcia faz cara de séria e indignada com os casos relatados. De uma hora para outra, porém, tem de exibir a arcada dentária para seus bem remunerados merchandisings. O mais bisonho, porém, é ver a apresentadora pedir seriedade e silêncio à platéia para “preservar” o convidado, como se ela mesmo não o expusesse ao ridículo da forma mais cruel. Um bom exemplo foi o dia em que um travesti já idoso relatava, em prantos, que tinha feito uma macumba para “segurar” o namorado anos mais jovem, que agora queria fazer sexo várias vezes por dia; o velho travesti já não agüentava mais e até apanhava do rapaz.

João Kléber e Márcia ainda ganham a companhia de Sônia Abrão. No Falando Francamente, do SBT, a jornalista resolveu abordar casos escabrosos como os que Ratinho mostrava em seus programas noturnos. Crianças com deformações ou problemas mentais são expostas sem qualquer pudor. O programa, inclusive, colocou no ar em “primeira mão” imagens dos irmãos que nasceram com as cabeças grudadas, algo que foi abordado em telejornais e outros programas, mas com o bom senso de não exibir os infelizes bebês.

João Kléber, porém, ainda é imbatível na ausência de escrúpulos nas tardes. O apresentador faz de tudo para prender a audiência. Como na vez em que uma moça foi ao Canal Aberto falar sobre Lúcia Veríssimo. O programa anunciava que ela iria fazer uma revelação sobre a atriz, que atualmente interpreta a Francisca da novela global Esperança. Kléber enrolou, a cada bloco a menina não dizia nada de novo e só no último foi revelado que a convidada, na verdade, queria pedir desculpas à Lúcia, pois era obcecada pela atriz e vivia a persegui-la. A produção chegou a ligar para a assessoria de imprensa da Globo pedindo para colocar Lúcia no ar pois se tratava de uma “homenagem”.

Essa é a patética realidade da programação vespertina nas emissoras abertas brasileiras. As poucas opções também não são das melhores. As exaustivas reprises globais do Sessão da Tarde e o insosso Ed Banana, da Record, são algumas delas. Uma programação que está dando saudades do Ratinho. Afinal, o “roedor” pelo menos é mais autêntico e divertido.

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