Grazi Massafera passou por uma verdadeira transformação diante dos olhos do público na novela das 23h, Verdades Secretas, que chega ao fim nesta sexta-feira, 25, marcada pelos temas polêmicos e pela abordagem ousada para os padrões da TV aberta. Uma transformação física, decerto, mas também como atriz. A ela coube o papel de Larissa, a bela modelo da agência de Fanny, vivida magistralmente por Marieta Severo – a ponto de esquecermos sua suburbana Dona Nenê de A Grande Família.
Desde o início do folhetim, sabia-se que o autor Walcyr Carrasco havia reservado a Larissa um caminho tortuoso, que a levaria à dependência do crack e à sua consequente autodestruição. Não seria um papel muito grande, mas a carga dramática da personagem já dava sinais de que Grazi tinha uma oportunidade de ouro em mãos. E, ao longo da trama, ela cresceu nas telas.
À medida que se afundava no vício, Larissa se afastava de sua bonita fachada, e ganhava cabelos desgrenhados, corpo esquelético, pele manchada e dentes amarelados (com auxílio de uma prótese dentária). Esse processo de degradação física da personagem, que acaba perdendo tudo e passa a vagar na Cracolândia com o namorado, foi acompanhado por sua deterioração interna, emocional – mérito de Grazi e do diretor Mauro Mendonça Filho. Grazi colecionou uma série de cenas impactantes, como a do estupro coletivo que sofreu nesta semana, nas quais sua interpretação precisa e longe do histrionismo ficou em evidência, sendo alvo de elogios do próprio Walcyr, do diretor, da crítica e, nas redes sociais, do público.
Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, por telefone, do Rio, a atriz paranaense, de 33 anos, conta que justamente o tom de sua atuação a preocupava. “Nunca fui da noite, não tenho vícios, não é meu estilo de vida. Então, tive muito medo diariamente de cair no caricatural, no exagero. Foi um cuidado meu, da direção.”
Ao contrário do que ocorria nas novelas Negócio da China (2008) e Flor do Caribe (2013), quando precisava se dedicar horas a fio às suas protagonistas, a atriz teve, desta vez, mais tempo para depurar a personagem. “As cenas são tão fortes que elas marcam, porém não são tantas. Isso foi muito bacana, porque tive de ficar em casa, de estudar, tive todo o tempo que precisei para minha vida aqui, com minha filha”, diz.
“Quando era protagonista, eu gravava 25, 30 cenas por dia. Como dá para você ter a mesma dedicação? A Larissa, gravei no máximo 7 cenas (por dia), e, para minha personagem, gravar essa quantidade equivale a muitas, porque é muito exaustivo. Quando eu chegava ao set, já me concentrava e só saía desse estado depois que acabava”, completa ela. Receber os capítulos com certa antecedência também contribuiu para esse trabalho de construção. “Deu para fazer um gráfico da personagem, deu para amadurecer. Às vezes, primeiro eu imaginava uma coisa e, depois de uma semana, já virava outra. Eu gravava na sequência, ia se transformando junto com a direção, com os atores, com a equipe toda. Dava tempo de eu reestudar tudo de novo.”
Para o laboratório, sua passagem pela Cracolândia era inevitável. Ela foi uma vez ao local e lá ficou por cerca de duas horas. Conversou ainda com usuários, para saber como era a vida deles, como se comportavam, as reações provocadas pelo uso do crack, o tipo de gíria que usavam, entre outras questões. “Esse contato foi fundamental. É um choque visual, é muito triste”, lembra. “Foram alguns diretores, o pessoal da fotografia também, cada um ali registrou coisas importantes para a gente tentar se aproximar da realidade.”
Grazi é serena com relação aos louros que Verdades Secretas lhe trouxe e também com a própria carreira. Participante do Big Brother Brasil em 2005, ela não renega sua origem na TV. Diz que nunca se imaginou numa profissão como essa e que faz parte de uma ala de atores que não têm formação, mas que são movidos pelo desejo, pela raça. E garante que as críticas nunca a abalaram; pelo contrário, são fundamentais, porque “não se ganha amadurecimento sem dor”.
“Não cheguei a lugar nenhum. Nesse momento, me sinto feliz. Uma equipe maravilhosa, um momento de vida e de maturidade, tudo casou com um papel incrível. Mas acho que tudo é passageiro, a gente não tem toda hora papéis incríveis.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.